É o principal responsável por grande sofrimento psicológico, um dos sentimentos mais enraizados em nós e que se escondem atrás de nossas insatisfações, tristezas, frustrações, tédio e angústias em nossas vidas.

A culpa advém do apego ao passado, uma tristeza latente não superada por ter “cometido algum erro” indevido. A raiz do sentimento de culpa é expressa por: “eu não deveria”. A base de sofrimento da culpa é a frustração em função da diferença entre o que não somos e a imagem de como pensamos que deveríamos ser. É um profundo sentimento de impotência, tristeza e desapontamento por não sermos perfeitos e infalíveis. O mais preocupante é que, em nossa cultura, ainda se ensina que o sentimento de culpa é uma virtude.

Em tempos de crise, tenho testemunhado muitas narrativas à cerca de sentimentos de culpa quanto a não atender as expectativas: do chefe e de performance profissional; do amigo(a), namorado(a), noivo(a), marido/ esposa; do tempo destinado à família e filhos; etc.

A culpa nos consome muita energia com a lamentação infindável e inócua, por aquilo que já ocorreu ao invés de a alocarmos em novas situações, ações e comportamentos mais produtivos. Culpa é considerada um comportamento doentio e disfuncional em todas as linhas terapêuticas.

Culpa é a expressão máxima do autodesprezo, a não aceitação de nossos limites, fragilidade e impotência frente a algumas circunstâncias vivenciadas. É uma atitude de alienação e auto vingança, por não correspondermos à expectativa de alguém a nosso respeito; seja ela clara e explícita ou interiorizada no decorrer de nossas vidas. Comumente, nossa reprovação interna advém do eco das vozes recriminatórias de nossos censores: pais, mães, irmãos, amigos, professores ou outros ainda fortes dentro de nós.

Podemos trabalhar o sentimento de culpa, mas, é necessário descobrirmos as falsas crenças que nos habitam. A expectativa perfeccionista da vida e a percepção de que o “mundo é justo”, são produtos de nossas fantasias.  Alguns ainda acreditam ser possível viver sem cometer erros. Quanto maior for à diferença de percepção entre a realidade objetiva e nossa fantasia, entre o que podemos nos tornar através de nosso potencial e os conceitos idealistas impostos, maior será o nosso esforço e ainda maior será nossa frustração em nossa vida.

Quando atendemos a essa crença opressora da perfeição, atuamos num papel que não tem base real em nossas necessidades. Nós dissimulamos e falseamos a realidade objetiva, evitamos encarar nossas limitações e ao desempenharmos papéis sem base em nossa capacidade, criamos o inimigo íntimo, que é o ideal imaginário, o como deveríamos ser e não o como realmente somos.

Alguns pacientes me afirmam que seus sentimentos de culpa advêm de seus erros, vez que reproduzem uma crença de nossos paradigmas mentais, onde a culpa é uma decorrência natural do erro e que não existe de maneira alguma culpa sem erro. De fato, isso não é verdade, pois uma coisa é o erro e outra é a culpa. São coisas distintas e que generalizamos, para não termos saída plausível e assim, justificarmos nosso sentimento de culpa.

Entendo que o erro pode ser encarado de diferentes pontos de vista. Por um lado, a imposição da sociedade, que diz que não podemos falhar ou errar e que qualquer erro pode e deve ser punido. Desta forma, nos é negado o direito de fracassar! Creio que, muitos como eu, aprendemos isso desde pequenos.

É natural olharmos o ato de errar como grave, ou passível de punições. Muitas vezes, nós adultos erramos e perante a sociedade não podemos admitir, pois aprendemos que admitir uma falha é humilhação. Pedir desculpas é obrigação do outro, afinal, se não posso ou devo assumir meu erro, por que tenho que pedir desculpas?

Podemos ter uma atitude diferente diante do erro. Errar sempre será uma característica humana, e como tal, não precisa ser percebida ou tratada como incapacidade, pode e deve ser vista como um caminho natural para o acerto, um momento de reflexão, aprendizagem e crescimento.

A culpa é o sentimento que vem de nós. Tem sua origem na reprodução da crença de que é errado errar, que devemos ser castigados pelos erros cometidos. O sentimento de culpa é a forma irracional de nos punirmos pelos erros cometidos.

O erro é inerente à natureza humana, ele é necessário à nossa vida, só crescemos através do erro. O erro é a clara demonstração de como eu sou, quando der ouvidos aos meus erros, ao invés de me lamentar internamente, terei aprendido e crescido com ele.

Se a culpa corresponde à vergonha da queda, o auto perdão é a solução libertadora entre a queda e o levantar novamente. Imageticamente, o auto perdão é o ato de recomeçar a brincadeira após o tombo. Significa crer e afirmar que: eu me perdoo pelos erros cometidos, por não ser perfeito, pela minha natureza humana falível e pelas minhas limitações. Eu me perdoo por não ser perfeito, onipotente e onipresente. O perdão deve ser sempre alocado a si mesmo. É algo íntimo, pessoal e intransferível. O ato de perdoar aos outros é somente uma confirmação de que já nos perdoamos.

Quando nos perdoamos, restabelecemos nossa própria unidade, com isso, unimos novamente o que a culpa dividiu. Trata-se da aceitação integral do que já aconteceu, do que já passou, do que já não tem jeito. Enfim, é o encontro corajoso e de aceitação da realidade.

Aqueles que já desenvolveram a capacidade de auto perdão, conquistaram a liberdade e energia para viver uma vida psicologicamente sadia. O perdão é o ato da própria aceitação da vida do jeito que ela é, com seus altos e baixos. É a capacidade de aceitar e dizer adeus ao passado, e um sim àquilo que a vida nos apresenta agora.

Não tenha medo de cometer erros, não são pecados, são apenas formas de aprender e fazer coisas de maneira nova, diferente e criativa.

Pense, para que ser e atuar como um perfeccionista, o que você produz e ganha com isso? Essa escolha mostra-se como uma tortura sem propósito e sem fim, uma prisão, pois quanto mais você se defende na tentativa de evitar o erro, mais você erra e se martiriza por isso. Não se aborreça com seus erros, alegre-se e aprenda com eles, pois você teve a coragem de dar algo de si.

O único que não erra, é aquele que nada pensa ou produz!

Marcio Caldellas – Psicólogo clínico, Personal, Career & Executive Coach certificado pela Sociedade Brasileira de Coaching e BCI – Behavioral Coaching Institute – USA. Sólida carreira desenvolvida em Executive Search como Headhunter atuando com posições executivas. – www.mccoaching.net