Quando recém-formado em Psicologia, sai da faculdade com consultório montado e com alguns pacientes herdados da própria clínica. Desde então, percebia o quão desafiador era lidar com a resistência de alguns pacientes para engajá-los em seu processo de desenvolvimento e mudança, visando tornar a relação com sua realidade mais objetiva, prazerosa e minimizar seu sofrimento existencial.

Passados três anos, um dia, após o término de uma sessão, acompanhando o paciente até a porta, fui surpreendido por uma pergunta: Marcio, o que faz com que pessoas te procurem em busca de ajuda? Fiquei surpreso e respondi o sofrimento existencial. Expliquei: O que ocorre frequentemente com algumas pessoas é que elas resistem à mudança em diversas situações de suas vidas. Logo, quão maior for sua resistência à realidade, maior será seu sofrimento. Quão mais enfrentar e aceitar a realidade que se apresenta, pouco resistindo, maior e mais rápida será sua adaptação a ela e, menor serão seu desgaste e sofrimento emocional.

Costumo ilustrar para meus pacientes e coachees, duas possibilidades atitudinais frente à vida: dura ou maleável.

Como exemplo, utilizo um conceito da Engenharia que afirma: todo o material tem seu ponto de quebra e faço uma analogia com o comportamento humano. Nós seres humanos sofreremos mais à medida que endurecermos e resistirmos à realidade. Logo, quão mais dura e rígida for sua postura frente à realidade, tal como o aço ou fibra de carbono, tenderá a quebrar com o tempo, devido ao desgaste e à exposição às pressões cotidianas. Entretanto, quão mais flexível e maleável for sua postura, tal como o papel ou plástico, tenderá a adaptar-se melhor a realidade, gerando menor desgaste e/ou possibilidade de conflito ou quebra nas relações.

“Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças. - Leon C. Megginson”.

Nota: Frase proferida por Leon C. Megginson, professor da Louisiana State University, num discurso em 1963, onde apresenta a sua interpretação da ideia central de "A Origem das Espécies" de Charles Darwin.

Parto da premissa que: o único Ser neste mundo que gosta de mudança, é bebe molhado, (mudança de fralda). Faz sentido para você? Não conheci ainda quem não resista à mudança, mesmo que perceba ser necessário ou imperativo. A resistência é uma reação primária, normal e esperada, seja em maior ou menor grau, qual variará de pessoa para pessoa, face à sua relação com a realidade e as perdas envolvidas em não mudar.

Resistir à mudança significa reagir negativamente demonstrando desinteresse ou falta de vontade para tentar ou mesmo, operar uma mudança “desejada” ou necessária. Seja na vida pessoal ou nas organizações, é comum identificarmos pessoas com essa atitude e, tal resistência precisa ser quebrada para que a mudança se efetive.

A resistência à mudança é algo natural, pois expressa o desconforto em ter que partir para o novo e desconhecido, renunciando a visão, pensamentos e ações que até então, “davam certo”. É um convite explícito para abandonar a zona de conforto para poder crescer e seguir em frente, melhor.

Estou formado há vinte e seis anos e diariamente, me deparo com pessoas resistindo à mudança. Noto que as principais razões que embasam a maioria das pessoas a resistirem bravamente são: o medo do desconhecido e principalmente, o medo de sofrer. Ninguém em sã consciência deseja sofrer, mas, no entanto, não realizam o quanto de sofrimento está envolvido quando se impõe resistência à mudança.

O sofrimento existencial é inevitável!

Veja só que interessante: A pessoa que resiste à mudança em função de seus medos, tende a continuar vendo, pensando e agindo da mesma forma, mas crendo que obterá novos e melhores resultados. Só que não! Ela apenas sofrerá, se desgastará emocionalmente e se frustrará com os mesmos resultados conhecidos. Ela se nega a aprender novas formas de existir e não evolui, só resisti e nada muda. Esse tipo de sofrimento mantém a pessoa estagnada na conhecida mesmice de sua vida.

Por outro lado, a pessoa que nota a repetição dos resultados em sua vida, percebe sua insatisfação e a necessidade de mudar, naturalmente resistirá, até que decida enfrentar seus medos e se lançar ao desconhecido para mudar. Sem dúvida, sofrerá em algum grau ao longo do processo de mudança, até que o acomode, mas aprenderá novas formas de existir e evoluirá pessoalmente. Esse tipo de sofrimento liberta a pessoa para novas e melhores possibilidades existenciais.

O sofrimento é inerente à existência humana. Assim sendo, ele é certo, mas só sua escolha o libertará ou não!

 

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