Quem virá para o time agora? (parte 1)
Foram vários os pontos que mais me marcaram na aprendizagem que tive com uma grande profissional de Recrutamento & Seleção, que foi uma colega de trabalho há anos atrás. A chamarei aqui de Betinha. Usarei este espaço para compartilhar com vocês, em vários textos e no nosso programa de formação de profissionais de “Talent Acquisition”, estas ricas dicas.
Betinha, a cada preparação que fazia para uma entrevista, além da atenta leitura daquele documento chamado CV, ao se levantar para ir recepcionar o candidato, murmurava: “Vamos ver se este consegue me contar o que este papel não me conta...”. Não estava aí uma pontinha de desmerecimento deste documento pessoal que cada dia está tomando diferentes formas (vamos falar sobre isso em algum dos capítulos), mas sim uma expressão de uma habilidade do recrutador. Um dia, intrigada com aquele murmúrio, quase um repetitivo mantra, pedi para conversar a respeito.
Betinha, com um belo sorriso, me disse o seguinte: “Papel aceita tudo! Meu grande desafio é ajudar o candidato a contar sua história, naquilo que conseguiram contribuir, naquilo que bateram com a cara no muro, mas principalmente o que aprenderam com tudo o que viveram , para então poderem fazer, de uma forma melhor, aquilo que dizem que sabem fazer aqui neste papel...” E, de maneira quase dramática, chacoalhava no ar um CV aleatório que agarrou de cima de sua mesa. Visualizaram a cena? Claro que, com meu jeito enxerido de ser, a pergunta que fiz foi “E com você consegue que eles te contem estas histórias?”. A resposta sábia veio rapidinho... rs... “Simples! Eu tento conhecer os perrengues (palavra corriqueira para designar desafios, de uma maneira menos formal...) que a área contratante está tendo. Com este conteúdo, elaboro perguntas simples, pedindo ao candidato que me conte situações vividas com perrengues parecidos (rs...) e que enriqueça a história contando o que ele fez, como fez, que resultado teve e o que aprendeu com aquilo.”
“E, como você sabe que o candidato não está mentindo ao te contar a história?” – eu, inapta recrutadora, perguntei. A resposta, de “bate e pronto” veio assim – “Observando a maneira que o candidato se expressa ao me contar, a forma que o mesmo faz as conexões entre os fatos, a ordem cronológica dos acontecimentos na narrativa, o uso de pronome “Eu”, entre outros. São vários os elementos que atestam a veracidade. Mas têm um que nunca me engana: A emoção que sai com a voz e os gestos quando o candidato me conta as ações e resultados, e sai tudo com um tom de aventura e de satisfação com a conquista! Como se ele estivesse vivendo aquilo tudo de novo...”
Achei aquilo emocionante e tive muito respeito pela demonstração tácita de competência que Betinha estava me dando. Sim, a palavra competência é que chega a tomar seu espaço neste texto... O que minha amiga estava me ensinando é o que os estudiosos chamam de técnica de entrevista por competência. O principal conceito desta técnica diz que o que alguém fez no passado frente a determinada situação, e consegue contar o que fez, como fez, porque fez e o que conseguiu, é uma forma de predizer um comportamento futuro frente a uma situação semelhante. Por isso, pedir para que uma pessoa conte um exemplo do passado é uma forma de atestar se a pessoa teve ou desenvolveu alguma competência lidando com aquele fato, o que será um bom indício de que esta pessoa conseguirá colocar em prática novamente esta forma de se resolver o “perrengue”.
Muitas e muitas vezes coloquei este método em prática em minhas entrevistas e ensinei isto aos gestores que estavam contratando profissionais para seus times. Verdadeiramente a entrevista “ganha cor” e mais elementos se somam para que possamos, depois, discutir, com mais assertividade, quem será o próximo que virá pro time.
Estou ansiosa para escrever ou me encontrar com vocês para compartilharmos outros elementos que engrandecem a experiência de se trabalhar nesta área e nos honram como profissionais de R&S