Pessoas gostam de deixar aqueles lugares onde mais frequentam com características próprias. Gostamos de definir lugares como “nossos”.  Um lugar profissional para chamar de seu precisa ter as fotos de alguém querido, uma figurinha qualquer, um papel de parede personalizado na tela do computador.... E uma mesa apoiando tudo isto, cheia de coisas profissionais e algumas coisinhas pessoais. Há muito tempo que esta sensação de algo “permanente” permeia nossa definição psicológica de segurança profissional. É a velha crença de que as coisas são imutáveis. Precisamos de um lugar nosso para podermos trabalhar. Esta ainda é a ideia reinante, mas algumas coisas fundamentais mudaram:

Trabalhar é cada vez mais sinônimo de produzir performance.

E produzir performance significa, cada vez mais, mobilidade. Com utilização racional de custos. Móveis, utensílios de trabalho e até espaços vem sendo, cada vez mais, redefinidos em nome da performance plena. Da liberdade de mover-se associada à utilização, a mais otimizada possível, dos recursos disponíveis para desenvolver resultados.

O Começo

Tudo começou com o incremento cada vez maior do home office, solução racional e imensamente confortável para escritórios ocupados por profissionais que poderiam, sem perda de qualidade, atuar em casa utilizando-se dos vastos recursos em rede disponíveis. Claro que foi preciso que a disciplina - que revê espaços e momentos profissionais e pessoais - fosse, de fato, transformada em realidade. Pessoas foram habilitadas a reconhecerem lugares domésticos como profissionais, o que causa diariamente uma revolução significativa de custos e um bom número (não todos...) de profissionais felizes... Por poderem ficar em casa e ao mesmo tempo no trabalho.

Felicidade pessoal é um item de difícil mensuração isoladamente, mas pleno de resultados amplamente mensurados no que se refere ao aumento de performance. Como é sabido (mas ainda pouco reconhecido. Ainda mais em nosso país, ainda preso a conceitos algo antigos no que se refere a relações de trabalho, à exceção de brilhantes e bem sucedidas experiências, ainda minoritárias), pessoas felizes performam melhor.

 

Dividindo

Felizmente, o mundo está permanentemente...  Em mudança.  Eis que o home office passou a não atender mais a alguns desdobramentos de evoluções profissionais, como aquelas que necessitavam de itens como um espaço neutro para receber parceiros e clientes, internet de alta velocidade e alguns mimos necessários para tornar também os clientes e parceiros felizes. Surgiu então o coworking.

Para atender estas novas necessidades, Brad Neuberg criou em 2005 em São Francisco, Califórnia, um simples e aconchegante apartamento, onde profissionais de tecnologia com horários ociosos passaram a ceder espaços para avulsos compartilharem seus lugares preferidos e experiências. O negócio, como a grande maioria das idéias simples, prosperou no mundo inteiro. Conceitos como downsizing, em especial nas atividades-meio, agilidade, praticidade e conforto em ambiente exclusivamente profissional, atraem cada vez mais profissionais de tecnologia e outros setores, além de alguns ex-home officers saudosos da valiosa troca in loco, tanto de experiências como de locais apropriados para personalizar relacionamentos profissionais.  O conceito de coworking é sedutor inclusive como negócio. É possível, graças à divisão dos mesmos espaços por hora ou dia, conseguir espaços a preços muito razoáveis com todas as vantagens de escritórios tradicionais. É bom construir espaços para coworking. É bom ser inquilino. Não é à toa que, no Brasil, já há algo em torno de 250 espaços, sendo quase a metade deles em São Paulo. E há outras formas de compartilhar espaços além do coworking... Mas antes de chegar nelas, vamos retornar um pouco ao parágrafo inicial, porque parece haver uma contradição conceitual aí.

 

Um Retorno à Liberdade

Vamos lá:

 Este texto começou com aquele conceito de que pessoas costumam deixar os lugares que mais frequentam com características próprias. De fato é assim. Claro que, em espaços compartilhados, personalizar não é a mesma coisa. Também dissemos que gostamos de personalizar porque precisamos chamar de “nossos”, os lugares. Como é possível então prosperar a noção de compartilhamento de espaços profissionais?

O que está mudando é o conceito de espaço físico no contexto profissional. E isto graças a mudanças pontuais no próprio conceito de trabalho. Algo bem claro em algumas profissões. Mas que tende a se estender, talvez, a todas elas. Trabalhar como performar é atuar além do espaço. É transformar a sua própria mente em local de trabalho. Antes íamos ao trabalho.

Hoje e cada vez mais somos nosso próprio local de trabalho. Isto porque é dentro de nós que se desenvolve o processo de trabalho, assessorados por gadgets que reabrem nosso local de performance em qualquer lugar.

É em um local de liberdade que vai se desenvolver todo e qualquer processo de trabalho, em próximo futuro. E não há como não pensar que, de onde estiver, Peter Drucker não está agora sorrindo, quase maliciosamente, diante desta tão próxima perspectiva.

O indivíduo abre mão da limitada visão de “escritório personalizado” para a vastidão de qualquer parte, já que o local onde realmente acontece performance é a partir do próprio profissional, o performer.

Passa a clarear então o motivo dos negócios desenvolvidos em espaços tradicionais também estarem mudando:

A transformação de conceitos imposta por novas realidades no mundo dos negócios transforma a noção de espaço e de tempo, levando-nos cada vez mais ao imponderável.

 

Outros Modos de Dividir

Experiências como aquelas de horários livres, em que o profissional sabe quando deve estar e, deste modo, em muitas empresas de diversos segmentos, pode transcender a noção de ponto definido, muitas vezes associa-se àquela de espaços compartilhados plenamente por todas as pessoas. Já que os horários não definidos ficariam pouco práticos se houvesse “uma mesa para cada um” ... E pouco econômicos, claro.

Há também, inclusive no Brasil, algumas poucas empresas que já atuam sem espaços ou hierarquias, o que põe a todos em decisões compartilhadas em locais compartilhados... Em horários definidos comunitariamente.

Nós, aqui no Instituto Profissional de Coaching e na Outliers Careers, temos tanto salas e mesas de escritórios profissionais tradicionais, como outras salas e outras mesas compartilhadas, de modo a simultaneamente ampliar a troca de idéias entre profissionais e otimizar custos. Espaços ociosos, nem nas empresas nem nas mentes de seus performers.

Há um movimento palpável de mudanças que inicialmente alterou o conceito de trabalho. Depois modificou sua localização. O trabalho tende a estar dentro do profissional. Visto, de fato, como performer.

Em breve o Brasil vai acordar que há algo a ser dinamizado no que se refere às relações trabalhistas e suas definições legais. Performers não podem limitar-se às regras atuais, que desfavorecem precisamente a realização de trabalho como busca contínua de performance.

Vemos este caminho como determinante de novos parâmetros, revendo até mesmo a própria definição de profissional:

Profissional é um indivíduo em contínuo processo de ampliação de performance além da noção temporal e física de limites.