Temos o compliance no seu puro conceito nas medias e grandes organizações, temos o compliance se solidificando no seu puro conceito nas pequenas organizações, nas prestadoras de serviços, nas ONGs, nos sindicatos, etc, etc e tal. Afinal de contas, como a palavra da moda, até o governo usa o termo compliance atualmente, impressionante. Não? Não sei! Você sabe?

 

            Pensando no puro conceito da palavra compliance, simplificadamente, cumprir, estar de acordo, ato de seguir as regras. Olha só, que coisa fácil de fazer, palavra difícil, mas, na sua simplória tradução ou entendimento muito fácil de assimilar e transformar em atitude caros colegas. Quem me dera estar diante de uma saída satisfatória para o que está ocorrendo no nosso País e no mundo, todos os dias temos lido, ouvido e percebido que ainda estamos a milhas e milhas de distância do verdadeiro compliance.

 

            Nos anos que trabalho com auditoria, gestão de riscos, combate a fraudes, ética corporativa, canais de denúncias, fazendo palestras, ou seja, com compliance, nunca explodiram tantos escândalos assim, veja, me sinto calejado em descobrir esses tipos de ações criminosas e os tipos de pessoas que cometem tais crimes. Por um lado, acho positiva essa corrente de querer mergulhar cada vez mais fundo nesse mar de lama e trazer os assuntos para a superfície, pois, somente assim poderemos passar a limpo e arrumar o que tem de errado, é como diria algum sábio da idade média, “não é possível fazer uma limonada sem cortar os limões”, mas, por outro lado, me sinto um pouco combalido em perceber isso, o que já foi descoberto e está nas nossas vistas também é difícil de consertar, buscar soluções, desvendar os elementos comprobatórios, encontrar responsáveis, dar-lhes o direito de ampla defesa e contraditório e puni-los caso sejam culpados, se assim for seguir o compliance das leis do nosso País. Confesso a vocês agora, que usar o termo compliance na frase anterior não me agradou muito, teve um sentido de anedota ou de hipocrisia, ecoou estranho na minha mente fazer a ligação entre investigar os indivíduos e se fazer cumprir as nossas leis.

 

            Pensando aqui rapidamente sem ordenar ou querer ilustrar cada item, nos últimos meses foram descobertos e noticiados muitos casos, vejamos:

 

·         Fraudes nas montadoras de veículos

·         Fraudes nos frigoríficos

·         Fraudes no petróleo

·         Fraudes na construção civil

·         Fraudes na indústria nas industrias em geral

·         Fraudes na copa do mundo

·         Fraudes nas olimpíadas

·         Fraudes no INSS

·         Fraudes em programas sociais

·         Fraudes nas contas contábeis dos setores públicos e privados

·         Fraudes no sistema de saúde

·         Fraudes nas merendas escolares

·         Fraudes no sistema estudantil

 

Meu Deus, parece que essa lista não tem fim!

 

Todos sabem, pois, é amplamente divulgado na mídia, todos repudiam e cobram ações, no entanto, por si só o compliance na sua pura concepção não é o suficiente, precisamos chegar na consciência das pessoas, dos executivos, dos chefes de estado, classe política e seja mais onde for. A consciência é fundamental, penso em alguns exemplos, como gatonet, pirataria de produtos, estacionar em local proibido, oferecer propina para o guarda de transito, pedir atestado médico sem estar doente para apresentar na empresa, entre tantos outros, tudo isso é fraude também. Vocês que estão lendo esse texto conhecem ou já conheceram pelo menos uma pessoa que reclama do governo, dos bancos, das grandes fraudes cometidas por empresas, mas, se gabam de terem escapado de uma multa de transito com propina, ou de terem todos os canais de TV a cabo sem gastarem nem um real se quer na mensalidade.

 

      É dessa consciência que escrevo, todo ser humano normal sabe discernir entre o certo e o errado, mas, muitas vezes ignora a consciência sobre seus atos, não aceita, ou pior, justifica suas falhas morais e enfrenta seus dilemas éticos responsabilizando a atitude de terceiros. Deixo claro aqui que minhas palavras não têm peso de julgamento, também não vou abordar as lacunas sociais e de educação, mas, creio que estes dois itens são muito importantes no contexto da situação.

 

      Numa das minhas palestras, respondendo à pergunta de um profissional disse a seguinte frase.

 

 

      Por vezes me pergunto se realmente não custa nada propagar ética e honestidade, esse é um dos pontos fundamentais, todos nós cidadãos temos o direito de cobrar autoridades, irmos às ruas, lutar pela melhoria de situações que prejudicam o povo e exigir que as leis sejam cumpridas em sua essência, se algumas dessas leis não estiverem de acordo com o atual momento, não podemos ignora-la como se não existisse, temos como dever buscar alternativas legais reagir e continuar na luta, exigir mudanças, onde, sempre com honestidade e transparência exercer a função do cidadão de bem.         

 

      Propagar a cultura ética, talvez seja um dos primeiros passos numa maturidade de consciência para se fazer o certo, esse é o tal compliance que quis abordar neste texto. Nas organizações, nas sociedades e nos setores público e privado não existe compliance se não existir ética e transparência.

 

Maurício Roncato Piazza – MBA - MASTER IN BUSINESS ADMINISTRATION em Gestão de Riscos Corporativos pela FAPI – FACULDADE DE ADMNISTRAÇÃO DE SÃO PAULO BRASILIANO & ASSOCIADOS. Especialista em GCN – Gestão da Continuidade de Negócios pela Brasiliano & Associados – FAPI. PERITO JUDICIAL TRABALHISTA, Especialista em LEAN MANUFACTURING. Palestrante da Next Business Media – CorpRisk e CorpBusiness, edições de riscos e compliance, nas áreas de GRC, Fraudes e BCP (Business Continuity Plan) e AMCHAM – Câmara Americana de Comércio, onde é membro convidado do Comitê de Compliance e Gestão de Riscos. Autor e colaborador do site “Monitor das Fraudes” http://www.fraudes.org. Graduado em Ciências Contábeis, Gerente de Riscos e Compliance da empresa Libbs Farmacêutica. Responsável há 7 anos pelas áreas de Compliance, Auditoria Interna, Ouvidoria e Riscos Corporativos. Atua no combate a fraudes, desvios de informações, medicamentos e responde pelo Programa de Compliance da organização. Na contabilidade atuou durante 17 anos na área tributária, desenvolvendo-se em planejamento tributário nos ramos de comércio, indústria e serviços. Possui profundo conhecimento em implantação de sistemas integrados (SAP, Microsiga, RM e PLACOMP), no que tange as áreas tributárias e de finanças. Autor de diversos artigos e da Teoria da Estrela da Fraude. Professor de Pós Graduação nas instituições FESP (Faculdade de Engenharia de São Paulo/Brasiliano e Associados) e FIA (Fundação Instituto de Administração) e palestrante abordando assuntos relacionados à Riscos Corporativos, Fraudes, Investigações, Compliance, Código de Conduta, Ética Empresarial e Canais de Denúncias.