Não existe nada mais complicado em termos de carreira - e por que não da vida em geral - do que acomodar-se simplesmente.

As desculpas são as mais variadas, desde o momento de crise, que faz com que as pessoas digam que é melhor ficarem quietas no lugar, até falta de dinheiro, de tempo, de oportunidade.

Normalmente, as pessoas se esquivam de suas próprias responsabilidades atrás da que deveria, segundo ele, ser obrigação do outro fornecer.

O chefe não me reconhece, a empresa não me valoriza, a esposa não me dá apoio, o marido também acomodou, os filhos dão trabalho, a vida está difícil, o país é corrupto.

Um excelente exemplo chegou a mim por um amigo, excelente profissional da área da Qualidade, ainda muito jovem, que agarrou as oportunidades e os estudos como pode e está em ascensão. Não, ele não faz parte de uma família rica, não tem posses, seu pai esteve desempregado por muito tempo e ele teve que sustentar a casa. Cada centavo que entrava era para seu aprimoramento, porém, ele nunca desistiu ou desanimou. Deve ter reclamado uma ou duas vezes, mas até um plano B ele criou, como professor de Excel - excelente, aliás - a partir das dificuldades impostas pela necessidade.

Ele não paralisou nem mesmo quando pediu demissão de uma empresa, após alguns anos nela, para agarrar-se a outra oportunidade e, em menos de 3 meses, foi demitido.

Pois então, este mesmo amigo me contou que na empresa atual um Analista estava reclamando muito, da vida, do azar, da empresa, do chefe, de tudo.

Quando ele perguntou o que esta pessoa estava fazendo para se aprimorar desde que entrou ali naquela organização,  ainda como aprendiz, e ele disse em alto e bom tom: "nada", "não me dão nada aqui."

Vemos, portanto, 2 exemplos de pessoas nas mesmas condições que se portaram de forma radicalmente diferente. Meu amigo, lutador e já acostumado às mazelas da vida, não se abateu e não parou, não culpou nem a empresa que fez uma contratação totalmente errada, nem ao gestor anterior, nem a nada. Enfrentou e, em menos de 1 mês, estava novamente trabalhando.

Este outro, há anos no mesmo local, não foi buscar nem mesmo um curso Superior, o mínimo que as vagas pedem hoje em dia.

Suas desculpas, quando perguntado por meu amigo, foram inúmeras. Espero, sinceramente, que a lição de moral que ele levou tenha chacolhado sua vida. Até porque estamos acostumados a reclamar e a encontrar eco, alguém que também reclame e se junte ao coro da tristeza, mas raramente alguém que se oponha e nos mande levantar do sofá e ir à luta.

Poderia citar inúmeros exemplos e, tendo visto alguns na rede. No LinkedIn, dia destes, uma Engenheira Química postou que há um ano buscava recolocação, mas também colou a lista de excelentes cursos gratuitos que havia feito, todos muito pertinentes à sua busca e área de atuação. Seguidamente, após alguns dias, compartilhou seu novo emprego com a rede. Coincidência, será?

Outro, que reclama de absolutamente todos os RHs que o entrevistam, desempregado pela mesma quantidade de meses, culpa a todos, menos a ele mesmo e ao seu comportamento agressivo e negativamente contagiante, pelos seus problemas.

Todos temos e teremos inúmeras desculpas, em todo tempo e numa quantidade absurda. É como se estivéssemos no supermercado das desculpas, tem para todos os tamanhos, gostos e bolsos.

Sabe qual é o maior problema? Acostumar-se à paisagem, considerá-la normal, estar infeliz e simplesmente se aquietar sem nada fazer para mudar.

Todas as pessoas que conheço que mais tiveram sucesso não esperaram por feedbacks para prosseguir, não desanimaram no primeiro "não" ouvido, nem se importaram com a torcida contra, muito menos pararam para fazer "textão" reclamando do que a vida não deu, mas tinha que dar, por obrigação! Todos desenvolveram, não sem lutas, a capacidade de ter jogo de cintura e de sair das mais diversas situações através de sua própria criatividade e com seus recursos emocionais.

Acostumar-se à paisagem é não ver mais seus defeitos, suas possibilidades, as necessidades de mudança e o pior, não ver a si mesmo como agente desta mudança desejada. 

É o lider que não enxerga mais o potencial de sua equipe e não faz mais nada para alimentá-lo, o colaborador que desistiu de entregar suas metas por que cismou que nunca será reconhecido, o marido que deixou de olhar para a esposa com amor, o filho que desistiu da Faculdade pois tem certeza de que seus amigos estão certos quando dizem que é em vão e até você mesmo que lê tudo isto aqui, pensando: "Ah, mas ela é Consultora de Carreira, deve ganhar uma fortuna para escrever estas bobagens", sem fazer ideia das lutas diárias de empreender no Brasil.

Acostumar-se é o que faz o empresário que já não paga nem mais a diarista pois acha que "o pessoal do escritório não merece conforto". 

É ir à uma entrevista com tanta certeza de que o Recrutador é seu inimigo que já vai armado e passa péssima impressão. É não cuidar de sua aparência por que não vale mais se dedicar a zelar por sua imagem.

Por fim, é integrar-se à paisagem, fazendo parte dela como um arbusto, sem envolvimento, ação e mobilidade. É simplesmente integrar-se à paisagem.

É perder o respeito por si mesmo, pela vida, pelos colegas, pelo entorno.

Sinto em dizer, mas não existe coisa mais fácil do que entrar na onda de desculpa, do pessimismo, dos posts agressivos, do eco das reclamações, dos textos que denigrem profissões, pessoas e coisas, e nunca mais sair deste círculo vicioso.

Se você está nele agora, tenha humildade para reconhecer e para sair dele. Seja com a ajuda de alguém, um amigo, um líder, um ex-gestor, um parente, uma conexão, curso, palestra, leitura ou simplesmente você mesmo e sua força, sua capacidade infinita.

A habilidade de mudança está dentro de você, mudar de paisagem só depende de você, nem clima, nem economia, nem Governo, nada pode tirar sua capacidade de planejar, sonhar e fazer acontecer e de mudar de cenário. Só você mesmo pode gostar de fazer parte da paisagem e ali permanecer, indefinidamente.

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Imagem: Artista  >> Trina Merry - http://www.trinamerryartist.com/