O mercado de trabalho mudou muito e continua em transformação, mas será que realmente há espaço para expressão pessoal no visual?

Há alguns dias fui ao Poupatempo São Paulo para renovar minha CNH. Fui atendido por um rapaz com barba grande e com tatuagens cobrindo os dois braços e pescoço. Aliás, ele não era o único lá: é comum andar pelos corredores do Poupatempo e ver pessoas com piercings e tatuagens. O atendimento foi excelente e rápido e, pasmem, as tatuagens não influenciaram em nada a minha percepção sobre o serviço prestado! Ironias à parte, as tatuagens não são mais tão tabu quanto foram antigamente no mercado de trabalho, entretanto ainda geram dúvidas e receio no imaginário de quem tem ou deseja fazer uma tattoo.

Agora, de onde vem esse estigma da tatuagem no mercado de trabalho?

Segundo Osório, os empregadores jamais assumem que são resistentes às tatuagens, alegando que a decisão é por conta da percepção do “público atendido”, ao fato de o profissional tatuado gerar uma imagem de desconfiança para o cliente. Vale destacar que o mercado de trabalho ainda é um dos principais mecanismos de controle das áreas do corpo em que as pessoas escolhem para realizar uma tatuagem, a fim de mantê-las escondidas quando necessário.

Ainda assim, apesar de alguns setores mais tradicionais ainda serem resistentes às tatuagens visíveis, outros já abandonaram o antigo tabu e são “tattoo-friendly”. É o caso de empresas inovadoras e de áreas como comunicação, publicidade e propaganda, entre outras. Segundo Osório, os setores de saúde e comércio são os mais resistentes em relação a esse assunto. Quando pesquisei sobre isso fiquei surpreso com o caso do evoluído Poupatempo, pois apesar de ser uma organização com atendimento direto ao público, vem demonstrando que tatuagem e bom desempenho não possuem uma relação direta.

E quando falamos de tatuagem no ambiente de trabalho é impossível não fazer uma conexão com diversidade, tema que vem ganhando representatividade principalmente entre as grandes empresas. Ter um ambiente de trabalho mais permissivo e mais aberto às tatuagens é também uma forma de fomentar a diversidade. Uma mostra disso é o infográfico da Skinfo, que lista as empresas mais “tattoo-friendly” nos EUA, muitas delas possuem filiais no Brasil. Vale conferir também o excelente artigo sobre tatuagens no trabalho publicado no LinkedIn pelo Marc Tawil. O texto reforça a questão do bom senso e o impacto causado em outras pessoas na hora de deixar uma tatuagem à mostra no trabalho e dá três dicas de ouro em relação ao tema:

1. Entenda a cultura de trabalho da empresa;

2. Cuidado com tatuagens que podem ser consideradas chocantes, ofensivas ou agressivas;

3. Reflita se sua tatuagem poderá impactar sua carreira.

A escolha da empresa a se trabalhar também é do empregado e não somente do empregador. Se a empresa à qual você se candidatou ou em que trabalha atualmente não é amigável às tatuagens, talvez seja importante repensar se os seus valores estão de acordo com os do empregador. É claro que em um momento de crise como o que estamos vivendo escolher emprego não é algo tão simples assim. Entretanto, não é sustentável a médio e longo prazo ficar em uma empresa cuja cultura de trabalho você não se identifica. Se este for o seu caso, procure uma companhia que tenha mais a sua cara.

E fica a dica final: é fundamental ter maturidade para entender que alguns tipos de tatuagem podem ser mal vistos no mercado de trabalho e dificultar o acesso a empregos mais tradicionais. Tome cuidado especial com desenhos que fazem referência a drogas ou de cunho sexual, imagens que glorificam a violência, símbolos de outras culturas ou relacionados a religiões ou sociedades às quais você não pertence. O que vale sempre é o bom senso, mas sem esconder quem você realmente é.

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Matéria publicada originalmente na minha coluna de carreira do Bayer Jovens: http://www.bayerjovens.com.br/pt/colunas/coluna/?materia=o-estigma-tatuado