Medo de dizer “NÃO”.
A palavra “não”, é pequena, simples, poderosa, tem muitos significados e alta significância em nossa vida. Seu uso quando necessário pode ser desafiador para alguns. Tem como principal função, comunicar discordância sobre algo e impor limite ao outro em diferentes contextos: profissional, pessoal, social, cultural ou político.
Alguns sentem certo receio e outros nutrem verdadeiro medo, não confesso, de usá-lo, pois requer posicionar-se com firmeza e arcar com as naturais consequências que acompanham a atitude, ainda que estas sejam positivas para quem disse. Aqueles que evitam ou se recusam a usar a palavra “não”, sentem medo de se expor, causar conflito ou desagradar o outro, assim, sucumbem à vontade alheia para evitar problemas na interação. Tal dificuldade se explica e pode ser observada no seio familiar e está relacionada à criação, de quem possivelmente foi educado por pais inseguros, que sentiam medo de não serem amados pelos filhos ao lhes dizer “não” e impor os limites necessários.
Causas que dificultam ou impedem dizer “não”: Para aprender como dizer “não” de forma natural, coerente com seu sentimento e verdade interior, é necessário primeiro compreender e identificar as causas (crenças) que deflagram tal dificuldade, como seguem as principais:
Querer ajudar. Alguns acreditam que somos pessoas boas e não devemos negar nada a ninguém e que queremos ajudar outras pessoas sempre que solicitado e possível, ainda que tal atitude comprometa o nosso próprio tempo.
Medo de julgamento. Em sã consciência, sentimos medo e não queremos ser julgados em função de nossas atitudes. Assim, sabemos que a palavra “não” é interpretada como negativa e ao dizê-la podemos pensar que somos mal-educados.
Ser cooperativo. Não desejamos ficar a parte ou sermos excluídos do grupo porque às vezes discordamos. Assim, é preferível sermos cooperativos e, ao invés de dizer “não”, dizemos “sim” e continuamos a sermos aceitos.
Medo do conflito. Sentimos medo que o outro se aborreça se dissermos um “não”, e que tal situação gere um desapontamento, uma discussão ou consequências negativas que comprometam o futuro da relação.
Medo de perder. O medo de dizer “não” esta diretamente relacionada com o medo de não corresponder às expectativas do outro, em função disso perder uma oportunidade, presente ou futura e o medo de sentir-se rejeitado.
Desgaste no relacionamento. Algumas pessoas, imaturas, buscam manipular a relação, generalizando e interpretando um “não” às suas demandas, como um ato de rejeição pessoal, sendo que, tal fato pode desgastar ou até romper relações pessoais e profissionais com aquele que diz “não”.
Caso tenha concordado com alguma das causas, provavelmente identificou-se reproduzindo uma ou várias das situações descritas acima. Vale esclarecer que dizer “não” a alguém, não significa ser mal educado, faltar com respeito ou ser do contra. São apenas crenças disfuncionais presentes na vida de alguns, que ainda reproduzem um conceito equivocado do ato de existir e posicionar-se frente ao outro.
Aqueles que escolhem ou acreditam que só sabem falar sim, possuem grande dificuldade de impor limites a começar por si mesmo. Quando não se dá limite ao outro, você o empodera e se coloca em situação vulnerável ao assumir tarefas e compromissos sem necessidade ou desejo, gerando para si estresse e cansaço.
Se disser um simples “não” a uma pessoa, resultar no rompimento da relação, você deve agradecê-la por sua atitude imatura, mas libertadora para você. É impossível interagir com quem não respeita seu jeito de ser, seus direitos, suas escolhas e que não sabe ou não quer lidar com uma resposta negativa.
Enfrentando a dificuldade: Mudar não é fácil e nem impossível. A dor da mudança é pontual, ocorre ao longo do processo e te liberta. Já a dor causada pela resistência, é continua e te estagnará. Logo, dor por dor, escolha qual quer viver.
Saiba que dizer “não”, é tão desafiador quanto aceitá-lo. No entanto, a aceitação depende apenas da maturidade e autoestima do outro, mas posicionar-se e aprender a dizer “não”, só depende de você.
Toda atitude é passível de mudança e essa dificuldade não precisa ser eterna.
Com determinação, vontade e treino persistente, é possível mudar sua atitude, transformar sua vida, sem prejudicar ninguém. Antes de começar a treinar dizer “não”, se pergunte: entre você e o outro, quem você escolhe satisfazer? Conscientize-se que a cada “não” que disser ao outro, é um “sim” que diz a você.
É importante identificar as situações em que se sente mal quando escolhe abrir mão de seu desejo visando satisfazer o do outro. Isso feito mantenha-se firme e diga “não”, essa atitude o fortalecerá, se sentirá bem e passará a se escolher por valorizar o que te agrada e honra sua existência.
Comece devagar, experimente e ensaie dizer “não” em situações mais simples, com pessoas mais próximas ou amigos íntimos. Deixe para treinar com seus familiares, quando sentir-se mais seguro e a vontade com seu novo posicionamento e atitude, pois com esses, desenvolvemos relação emocional de dependência, tornando o ato mais desafiador.
Formas de dizer “não”: Pessoas que tem dificuldade em dizer “não”, são dominadas pelo medo de exercer seu poder de escolha, decisão e de posicionar-se frente ao outro. Comumente se expressam de duas formas: evitando situações em que querem ou tem que dizer “não” ou enrolando com explicações detalhadas para justificar sua inação.
Continuar evitando o que precisa e pode ser feito, não é a melhor opção. Priorize-se, tome coragem, enfrente a realidade e aprenda a sua forma de dizer essa palavra libertadora quando necessário. Tenha em mente que quando você muda seu comportamento, as pessoas inconscientemente se adaptarão à sua mudança, gostando, compreendendo ou não, mas aceitarão sua nova atitude.
Seguem algumas formas objetivas de dizer “não”. Identifique a que melhor se adapta a cada situação e use-a sem moderação.
- Não posso/ (quero) me comprometer com você. Neste momento, tenho outras prioridades.
É desnecessário justificar-se na tentativa de enganar o outro. Responda sempre baseado em sua verdade. Usar esta frase deixa claro que está ocupado com suas tarefas prioritárias. Não é preciso dar satisfação sobre sua resposta, a não ser que prefira, inicialmente, para adquirir segurança ao posicionar-se.
- Não é um bom momento, agora estou ocupado. Podemos falar a tal hora?
Use esta forma para não cair na tentação (reproduzir o padrão atitudinal) e interromper suas próprias atividades para atender/ satisfazer as do outro. Assim, informa que está ocupado e sugere um melhor horário para falarem.
- Adoraria fazer isso, mas…
Esta forma é suave, mas utiliza justificativas para dizer “não”, sem desapontar o outro, sua ideia ou necessidade. É uma alternativa sutil, quando precisar dizer “não” alegando (outras prioridades) ou (necessidades diferentes).
- Vou avaliar primeiro e depois te respondo.
Esta forma é inconclusiva e sinaliza um “talvez” ao invés do “não” em si. Pode ser uma alternativa, caso esteja interessado, mas não deseja responder “sim” rapidamente. Se necessário defina o prazo para a resposta. Contudo, ao sentir que não tem interesse em atender a demanda do outro, não use esta forma, avalie a possibilidade de usar as formas conclusivas.
- Sua necessidade não corresponde às minhas prioridades, mas me lembrarei disso.
Quando alguém lhe propuser algo que, de fato, não te interessa, é fundamental que comunique isso de forma clara, caso contrário, o outro poderá insistir visando te convencer. O objetivo é comunicar claramente sua escolha e demonstrar que esta proposta não é irrelevante e, que também está aberto a futuras ideias ou oportunidades.
- Não sou a melhor pessoa para te ajudar com isso no momento. Sugiro que escolha outra pessoa.
Quando alguém te pedir ajuda para algo que percebe, não querer ou puder contribuir, informe-a objetivamente e sugira que busque outra pessoa mais capacitada para resolver o problema em questão.
- Não, não posso/ ou (não quero)!
Esta é uma forma curta e direta de dizer “não”. Esqueça os mitos e interpretações negativas geralmente associadas ao ato e direito de dizer “não” e simplesmente o diga quando julgar necessário!
Seja VOCÊ, posicione-se, pense menos e aja mais em seu favor e benefício. Ficará surpreso com o poder do “não”, sua eficiência e, os resultados não serão tão desastrosos como imaginava. Seus principais ganhos: tempo, liberdade de ser quem é e poder fazer suas próprias escolhas. Experimente e não vai querer outra coisa.
Aos que desejam uma leitura complementar sobre o assunto, indico:
Não Diga Sim Quando Quer Dizer Não. - Dr. Herbert Fensterheim – Editora Record.
Marcio Caldellas – Psicólogo clínico, Personal, Career & Executive Coach certificado pela Sociedade Brasileira de Coaching e BCI – Behavioral Coaching Institute – USA. Sólida carreira desenvolvida em Executive Search como Headhunter atuando com posições executivas. www.mccoaching.net