“Existem empresas que fabricam os seus próprios profissionais e os desenvolvem para seu próprio benefício. Já outras apenas contratam profissionais.”

por Alvaro Gomes

É muito comum encontrarmos em todo tipo de organização pessoas que começaram suas carreiras em cargos de níveis menores que buscaram desenvolver-se e com o passar dos anos alcançaram cargos de nível estratégico nas mesmas. São os chamados ‘Hands On’, popularmente falando são os que colocaram a “mão na massa”, os que tiveram que aprender na prática.

Muito disso se deve não só ao interesse do colaborador em crescer, mas também do incentivo que lhe foi dado pela própria empresa, pois, houve nela a necessidade de não somente tê-lo como profissional, mas também em desenvolvê-lo para futuramente colocá-lo em uma posição onde alguém com tais conhecimentos viesse a transmitir para as novas gerações a visão, a missão e os valores da mesma.

Isso em uma época onde se quer existia, ou não estavam tão difundidos os conceitos que hoje conhecemos sobre gestão por desempenho e por competências. Conceitos esses que o RH moderno gosta de expor em seus murais de informação através de termos bonitinhos e siglas como, por exemplo, SGDCom (Sistema por gestão de desempenho e competências), o famoso CHA (Conhecimentos, habilidades e atitudes) além de vários outros termos.

No entanto, percebemos que nos dias atuais são poucas as empresas que conseguem aplicar um programa de desenvolvimento pessoal eficaz o qual atinja todos os diferentes níveis internos da companhia. Seus departamentos de recursos humanos tornaram-se máquinas altamente eficientes em contratar e desligar pessoas. Não existe uma política que atue de forma a enxergar os seus talentos internos dando-lhes oportunidades claras de crescimento.

Algumas ainda tentam promover um "falso incentivo” através de bolsas com desconto em universidades, escolas técnicas, de idiomas, enfim. A ideia é convencer os colaboradores de que ela está promovendo um investimento futuro, porém, são falhas ao identificar esses próprios profissionais. E quando é aberta uma oportunidade interna na empresa, buscam no mercado pessoas com um currículo acadêmico semelhante ao desses colaboradores já atuantes e que estão em busca dessa oportunidade. De fato, é muito mais fácil comprar algo do que produzir algo.

A revolução industrial nos trouce diversas facilidades onde não é mais necessário fabricar uma blusa para poder usá-la. Você simplesmente vai a uma loja e a compra. Assim também é o mercado profissional nos dias atuais, cada vez mais ele está deixando de ser um mercado e passando a ser um verdadeiro "supermercado", onde uma empresa já não precisa mais desenvolver um profissional, ela simplesmente o busca e o contrata.

Se ela precisa de um analista de finanças, ela vai até o supermercado, procura pelo setor de analistas, e o busca na seção finanças. Se ela precisa de um supervisor de logística, vai ao setor de supervisores e o busca na seção logística, e assim por diante. Rápido e fácil.

Mas então você se pergunta como ficam os programas de desenvolvimento profissional? O incentivo que as empresas dão aos funcionários para que eles estudem? ou mesmo as chamadas avaliações de desempenho, onde a busca pelo aperfeiçoamento profissional e pessoal também são cobrados?

Hora! Você realmente acha que o que motiva um funcionário a produzir mais é somente o seu salário no final do mês?

A verdade, é que as empresas em um contexto geral estão cada vez mais preocupadas em tornarem-se excelentes na fabricação de produtos, que acabam tornando-se cada vez menos eficientes na fabricação de "pessoas", deixando seus programas de desenvolvimento humano restrito apenas aos chamados "Hands off", estagiários, trainees, e menores aprendizes.

A tendência é que cada vez mais os colaboradores Hands On venham a perder espaço para esses Hands Off. Profissionais recém formados ou com seus respectivos cursos ainda em andamento, porém, sem a vivência de terem atuado em um chão de fábrica ou mesmo sem nenhum conhecimento prático nas atividades até então vistas somente de forma teórica nas escolas e universidades.

Alguns “gênios” da área de recrutamento e seleção dizem que os profissionais ‘Hands On’ por estarem tão ligados diretamente aos processos das organizações, tendem a terem suas mentes mais fechadas, não sendo eles capazes de desenvolverem um pensamento estratégico do negócio. Já os ‘Hands Off’  por não terem essa “afinidade” possuem uma visão melhor do processo como um todo. Provavelmente esses “gênios” nunca pisaram em uma área de produção industrial. Talvez eles tenham assistido muito ao filme ‘Tempos Modernos  deCharles Chaplin e pensam que as pessoas que lá trabalham não são “pessoas”, são robôs, e não “pensam”.

Esse "preconceito profissional" é algo que por mais que as empresas se esforcem em mostrar que não existe, ele existe! e não há como ser erradicado porque não está inserido na cultura da organização, ele parte dos próprios gestores que contratam, pois, são eles que determinam o perfil do profissional que querem contratar. E acredite! Suas exigências vão muito mais além de conhecimentos, habilidades e atitudes. Os requisitos mais relevantes a uma determinada posição nunca estão claramente descritos.

Um exemplo são as vagas destinadas as pessoas portadoras de deficiência física. Tenho notado um aumento significativo na indicação desses profissionais para a área de produção industrial. E nisso, veja, há um preconceito de "duplo sentido" que atinge dois tipos de profissionais, tanto o PCD quanto o Aux/Op. de produção. O primeiro por julgar que os profissionais PCD não possuem competência ou qualificação para atuarem em cargos de níveis mais estratégicos. O segundo por julgar que as atividades realizadas no setor de produção industrial, são "atividades fáceis" onde uma pessoa com limitações físicas não encontraria dificuldade de desempenhar seu trabalho. O que também se trata de um grande equívoco, pois, o setor de produção industrial é muito mais complexo do que apertar botões como já ouvi de muitos gestores da área.

Acredito que tanto um profissional ‘Hands On’ tanto um profissional ‘Hands Off’, são capazes de crescerem e de se tornarem até mesmo CEO em suas empresas. No entanto, há uma tendência de cada vez mais haverem colaboradores ‘hands On’ com excelentes currículos acadêmicos, mas que por sua vez, não conseguem ocupar posições estratégicas por serem prejulgados incapazes de pensar de tal forma devido ao seu histórico em chão de fábrica.

É fato que os profissionais 'Hands On' que não se qualificam, são vistos sempre com maus olhos por seus gestores. Entretanto, por mais surreal que isso possa parecer, quando os mesmos se qualificam demais, também passam a serem vistos com maus olhos. Muitas vezes chegam a serem incentivados por seus próprios gestores a buscarem oportunidades em outros lugares. Isso ocorre principalmente quando esses "gestores" não possuem tais qualificações.

É interessante que uma empresa dê oportunidade a novos talentos que cheguem para somar conhecimentos aos demais colaboradores. Porém, é necessário que ela tenha uma política de desenvolvimento profissional eficaz que consiga enxergar os talentos que ela já possui. Pois, da mesma forma que um colaborador se empenha em desenvolver um trabalho em prol do crescimento da empresa, também a empresa deve desenvolver um trabalho em prol do crescimento do seu colaborador.

Quando uma empresa desenvolve o seu profissional, ela não terá apenas alguém que estará ali para fazer somente o que está sendo remunerado para fazer, e sim, alguém que terá consigo uma afinidade, uma identidade e um compromisso com ela.

                                "É preciso valorizar as pessoas"

Uma má política de gestão do desenvolvimento e de competências é hoje uma das maiores causas de turnover existente nas organizações.