Em processos de Coaching com Coachees (clientes), que buscam potencializar-se, realizarem sonhos ou aumentarem sua performance profissional, frequentemente identifico hábitos disfuncionais que atuam como potentes sabotadores imperceptíveis. 

 

É impossível viver sem hábitos, vez que facilitam nosso cotidiano e liberam nossa mente para que possamos aprender coisas novas. Liberam nossos neurônios de trabalharem em funções simples, como pentear o cabelo ou lavar as mãos. Hábitos são ações repetidas frequentemente, conscientemente ou não. É um comportamento aprendido e reforçado por uma crença, positiva ou negativa, que reproduzimos de forma automática, sem pensar ou mesmo questioná-lo .  

 

A soma dos hábitos de nossa vida define nossa identidade. Segundo o filósofo escocês David Hume - “Somos constituídos por uma multiplicidade de hábitos que faz a trama de nosso viver”. Antes mesmo, Aristóteles, já difundia a importância do hábito. “Somos aquilo que fazemos repetidamente. Excelência, então, não é um modo de agir, mas um hábito”, disse ele.

 

O primeiro passo, para mudar um hábito é compreendê-lo. Cada hábito é constituído por uma sequência estruturada em três etapas. A primeira é o sinal, ou o gatilho que desencadeia o hábito. A segunda é a rotina, ou o hábito propriamente dito. A terceira, a recompensa, ou aquilo que buscamos ao repetir o hábito.

 

Charles Duhigg, autor do livro – O Poder do Hábito, quando iniciou as pesquisas para seu livro, resolveu aplicar o método para mudar um hábito que o tinha feito ganhar 3 Kg a mais: comer cookies todas as tardes. Passou a anotar o que fazia antes e depois de sair para a cafeteria. Foi identificando padrões. Entendeu que a vontade ocorria quando estava entediado. O tédio era o gatilho para o cookie. Sempre acontecia por volta das 15 horas, após responder e-mails depois do almoço, essa era a rotina. Em seguida, percebeu as recompensas: além de saborear o biscoito, conversava com conhecidos no café e dava uma volta no quarteirão. O passo seguinte foi planejar a maneira de mudar a rotina, sem perder de vista a recompensa. Nos dias seguintes, Duhigg tentou outras ações quando o alarme do tédio soava. Primeiro, saiu para dar uma volta. Em outro dia, comeu outro doce. Noutro, só tomou café e bateu papo. Por fim, descobriu que sua verdadeira recompensa não era o biscoito em si, mas o momento de descontração no meio da tarde com conhecidos. Enfim, Duhigg mudou de hábito e trocou os cookies pelo bate-papo sem doces. Isso o ajudou a perder 5 kg.  

 

Saiba que, cerca de 40% de nossa rotina cotidiana é constituída por hábitos. É como se vivêssemos no piloto automático por mais de nove horas por dia. Agora, avalie o impacto de seus hábitos em seu cotidiano e nos resultados que tem obtido em sua vida pessoal e profissional.

 

O segredo da mudança de hábito reside no conhecimento do mesmo. “Quando temos consciência do hábito, o superamos mais facilmente”, afirma Duhigg.

 

Embora sejam semelhantes, hábitos são diferentes de vícios e manias. Hábitos são atos conscientes ou não, que podem estar sujeitos a nossa vontade. Podemos deixar de repeti-los, quando assim decidimos. Já a mania, é mais difícil, pois envolvem uma ideia fixa, além do controle do indivíduo que geralmente condiciona um comportamento a uma crença de hábito. No caso do vício, a situação é ainda mais grave. O indivíduo é dependente (física e emocionalmente), de um ato ou substância, mesmo que cause prejuízos à sua saúde ou integridade em geral. Veja quadro abaixo.

 

Hábito, mania ou dependência?  (Foto: Fonte: Aderbal Vieira Júnior, psiquiatra, do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Universidade Federal de São Paulo)

(Foto: Fonte: Aderbal Vieira Júnior, psiquiatra, do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Universidade Federal de São Paulo).

 

Um hábito não pode ser esquecido, apagado ou excluído, mas sim, substituído por outro que julguemos mais positivo e funcional em nossa vida.

 

DICAS PARA FACILITAR A MUDANÇA DE HÁBITO COM SUCESSO.

 

Mude um hábito por vez -> Pense em suas prioridades e escolha o hábito que mais o incomoda e que esteja impactando em sua qualidade de vida. Uma vez escolhido, essa será a sua meta para atuar e persistir sobre ela, até que promova a mudança do hábito desejado.

 

Pense em soluções possíveis -> Evite cair na armadilha do radicalismo, ou seja, sair do 0 para o 100. Estabeleça ações factíveis e progressivas de acordo com seu objetivo. Se sua ideia é sair do sedentarismo e desenvolver o hábito de correr, não inicie querendo correr 5km no primeiro dia e sim comece caminhando. Invista sua energia criativa para pensar em formas de como operar a mudança e evitar a frustração.

 

Defina a meta e uma recompensa -> Trata-se de um reforço positivo. Estabeleça um tempo para realizar a meta. Atingiu, parabéns! Defina uma nova meta e prazo até que essa nova atitude torne-se um novo hábito. Pense em uma recompensa ou algo para presenteá-lo por seu esforço, dedicação e persistência. É importantíssimo comemorar nossas conquistas.

 

Divulgue a mudança -> É fundamental estruturar uma rede de apoio, com pessoas intimas (amigos e/ou familiares), em quem confia e que realmente torçam por você. Divida com eles, o que decidiu mudar, pois é importante ter pessoas ou grupo com quem compartilhar suas angustias e conquistas.

 

Documente seus passos e progressos -> Utilize papel, post-its e cole na porta do armário, geladeira ou elabore uma planilha, anote seus dados e acompanhe seus progressos diariamente. Isso vai motiva-lo e muito! 

 

Obstáculos à frente. Persista e nunca desista -> Mudar de hábito é algo desafiador. Caso falhe alguma vez, lembre-se que é um aprendizado que o fortalecerá, não desista, persista e reinicie com uma nova estratégia.

 

Modificar um hábito e substituí-lo por outro, mais positivo e funcional em sua vida, demanda decisão, foco, tempo, disposição e persistência. Construir um hábito é algo complexo, que envolve inúmeros fatores, mas muda-lo é mais desafiador, e possível, mas não fácil. Quando investimos na troca de hábito, estamos reprogramando nosso cérebro. Isso pode levar alguns dias, meses e até anos para que o novo hábito seja instalado, assimilado e torne-se automático. A reprogramação cerebral não é simples, porque envolve muito esforço. Seu sucesso nessa “missão” está direta e intimamente ligado à sua determinação e persistência.

 

Escrevendo esse artigo, decidi compartilhar minha história. Lembrei-me da luta que travei com o hábito de fumar qual, mantive por 30 anos. Tentei parar inúmeras vezes, mas sem sucesso! Utilizei medicamento de última geração na época e depositei toda a responsabilidade no remédio, claro, fracassei novamente.

 

Percebi então, que eu apenas desejava parar, em função de sofrer pressão externa de amigos, colegas de trabalho e familiares, mas não por mim, não era minha legítima vontade e nem queria de fato naquele momento. O sucesso conquistado, em meu caso, iniciou quando EU TOMEI A MINHA DECISÃO, vou parar para sempre! Elaborei minha estratégia: defini uma data para iniciar, comprei o medicamento necessário para utilizá-lo como apoio, e decidi que, vez iniciado o processo, não daria nunca mais uma tragada e caso o fizesse, eu assinaria a carta de confissão de fracasso que redigi e a colocaria em um quadro. Nove anos depois, nunca mais fumei e a carta não foi assinada até hoje. Mantenho um maço de cigarros fechado em casa, caso eu queira ceder o controle de minha vida a este antigo e disfuncional hábito que fez parte de minha vida.

 

Dedicado àqueles que têm filhos. Um último ponto a salientar é a importância dos primeiros anos de vida na formação de bons hábitos. Nascemos sem hábito algum. A criança os adquire em sua criação, dependendo do tipo de estímulo, dos valores e atitudes que seus pais ou demais pessoas que a cuidam, oferecem. Ensinar bons hábitos é tão importante quanto mantê-los. Estudos comprovam o efeito do exemplo dos pais para a aquisição dos hábitos da leitura, do sono e da alimentação entre outros.

 

Mudar não é simples. Em qualquer contexto em que se opere a mudança de um hábito, exigirá: decisão, esforço, estratégia, muita ação e persistência. Acredite, é possível!

 

Charles Duhigg diz, ”Hábitos não são destino.” - “Basta entender como funcionam e aceitar o trabalho duro”.

 

Marcio Caldellas – Psicólogo clínico, Personal, Career & Executive Coach certificado pela Sociedade Brasileira de Coaching e BCI – Behavioral Coaching Institute – USA. Sólida carreira desenvolvida em Executive Search como Headhunter atuando com posições executivas. www.mccoaching.net

 

 

 

 

 

Fonte: Charles Duhigg,– O Poder do Hábito.