Somos geneticamente preparados para a felicidade. Refiro-me a felicidade relacionada aos momentos prazerosos, ligados aos nossos cinco sentidos, e com as experiências positivas que estes nos proporcionam. Podemos então, considerar que felicidade é a somatória dos vários momentos prazerosos vivenciados. Temos ainda, a felicidade heudaimónica, que segundo o filósofo grego, Aristóteles, afirma que toda atividade humana tem um fim e envolve os sentimentos que ocorrem quando a pessoa se move em direção à auto realização para que possa desenvolver seu potencial e conferir propósito à sua vida.

Criamos nossas experiências através dos pensamentos e emoções visando sempre à felicidade. Assim, para melhorar nosso padrão de vida, é necessário melhorar primeiro nosso padrão de pensamento.

Tais perspectivas sobre a felicidade estão presentes em nossa vida. Às vezes, nos afastamos das sensações positivas que nossos corpos e mentes proporcionam, assim como, dos nossos objetivos e propósitos de vida, surgindo, o sofrimento, angustia e a infelicidade. Reflita sobre algumas formas de pensar e agir que seguem e, que podem contribuir para seu mal-estar. Considere investir em você para desenvolver-se e mudar sua vida para melhor.

Sentir-se angustiado com seu futuro e esquecer o que foi conquistado. -> Viver ansioso e angustiado com relação ao seu futuro, o fará sentir-se desanimado e o impedirá de agir produtivamente em seu presente. Esteja atento para não concentrar-se em sua visão e perspectiva de um futuro caótico, lembre-se e foque naquilo que já conquistou e aprendeu para que possa organizar-se frente ao que busca melhorar e atingir no presente.

Sentir medo de caminhar sozinho e contar demais com os outros. -> Atente para essa comum e potencial armadilha. Em alguma fase da vida, precisamos de algum suporte, mas, não confunda tal fato, com a negação de sua real capacidade e potencial para conquistar o que busca por si mesmo. Desta forma, pode instalar-se, o sentimento e a mentalidade de vítima, tornando-o “refém” de terceiros, acreditando ter que aceitar situações que não servem aos seus propósitos, a não ser o de sua própria sobrevivência neste cenário. O fato é que, a maioria das pessoas reúnem condições para definirem o que querem conquistar em suas vidas. No entanto, é necessário que se comprometam com a ideia, passem a agir com responsabilidade e percebam que podem correr o risco de estar se privando da oportunidade de se realizarem. Sim, esta é a escolha que algumas pessoas fazem. Simplesmente não dão a si mesmas a possibilidade de agirem e tentarem por seus próprios meios, assim, desenvolvem o medo de caminharem com seus próprios pés.

Acreditar que só será feliz quando atingir determinado objetivo. -> Quando projetamos nossa felicidade no futuro, condicionando o atingimento de um objetivo, para então sermos verdadeiramente felizes, estamos trilhando um caminho difícil e frustrante. Exemplo: Só serei feliz quando ganhar o prêmio milionário da Mega Sena. A pessoa que faz tal afirmação, absoluta e condicionada a um objetivo específico, relega as demais áreas de sua vida ao segundo plano, adota um critério redutor e limitante de possibilidades, em termos temporais, de outros objetivos atingíveis ou prazeres a vivenciar. Nesse meio tempo, é comum a pessoa sentir-se infeliz e miserável porque ainda não se tornou um milionário, seu objetivo de felicidade. Se esse tipo de pensamento for utilizado sistematicamente e generalizado aos demais objetivos, instala-se a obsessão e a felicidade é afetada negativamente, trazendo muita frustração. Cuidado com esse pensamento recorrente, conhecido como sabotador da felicidade. Considere que a pessoa atinja o seu objetivo, por exemplo, ganhando mais dinheiro, pois foi promovido por mérito em seu trabalho. Rapidamente encontrará justificativas para continuar infeliz e a sentir-se miserável, pois não se tornou o milionário ganhador do prêmio da Mega Sena.

É sempre positivo e saudável desenhar novos objetivos para gerar bem-estar e felicidade, mas é contraproducente atribuir total responsabilidade por sua satisfação, apenas com a obtenção de um determinado e único objetivo.

Enxergar a felicidade como algo exterior e não interior. -> Comumente, nos comparamos aos outros e, pensamos que somos mais felizes quando temos o melhor emprego com um excelente salário ou a esposa e filhos mais belos e saudáveis. Ocorre que, as pessoas que não possuem tudo isso, também são felizes. Nossas conquistas, conforto e bens materiais contribuem para o nosso bem-estar e promovem o sentimento de felicidade, mas reduzi-la a isso, é com certeza, destruí-la!

O estado de felicidade é algo interno, advindo da relação que travamos com nós mesmos, com os outros e no equilíbrio entre aquilo que queremos e o que obtemos de fato. É um sentimento que podemos experimenta-lo a qualquer momento. Caso você afirme e condicione futuramente, que primeiro precisa de algo para ser feliz, repense: esta afirmação é racional, lógica, razoável e sustentável para sua vida?

Não cuidar de si mesmo. -> Temos consciência do que devemos fazer para promovermos e mantermos nossa saúde. Sabemos que precisamos nos exercitar mais, não ingerir alimentos gordurosos e descansar física e mentalmente. Muitas vezes negligenciamos, pois nem sempre somos disciplinados em nossas ações, gerando sentimento de culpa. Um bom estado de saúde é o suporte básico para a felicidade. Vivenciamos isso quando sentimos fisicamente, algum desequilíbrio momentâneo em nossa saúde. Faça o que for preciso para que nada interfira em sua felicidade, cuidando de si mesmo. Livre-se e supere a culpa por não ter sido cuidadoso consigo anteriormente e passe agora à ação. Isso é o que importa!

Atuar no papel de vítima. -> Não significa ser um queixoso contumaz ao longo da vida. Trata-se daquele que atua baseado na crença de sua incapacidade para fazer ou conquistar aquilo que deseja. Sente-se “incapaz” de agir por si mesmo. Como vitima, busca intencionalmente comover pessoas para que a “ajudem” e façam por ela. Geralmente, a vitima, não é consciente de sua atuação, mas percebe os ganhos colaterais e atribui culpa aos outros pelos seus insucessos e por tudo que lhe acontece em sua vida. Simplesmente não está no controle, não está com o poder e nem se responsabiliza por sua vida. Esse modus operandi, desencadeia uma relação simbiótica entre: Vitima X Altruísta (aquele que ajuda), seu antagonista direto, que funciona como engrenagem mantenedora da relação. Quando o Altruísta se retira da relação, por cansaço ou vontade própria, o Vitima é obrigado a encontrar um novo Altruísta para complementa-lo, ou terá que se reinventar para seguir com sua vida adiante.

Vez que, esteja consciente da possibilidade de estar desempenhando o papel de vítima, avalie, reflita e liste ao menos sete fatos para cada questão:

Ø Quais os ganhos que ainda obtenho em atuar nesse papel atualmente?

Ø Quais as perdas que ainda obtenho em atuar nesse papel atualmente?

Após responder, observe e avalie se esses supostos ganhos, não estão sabotando sua vida e aprisionando-o em sua vitimização.

Focar sua atenção e valorizar seus erros. -> Lembre-se que, tudo aquilo em que focamos atenção expande-se. Se você escolhe olhar para tudo o que está mal, para os erros e fracassos, para os seus e os dos outros, você está se estimulando negativamente. É importante atentar para o que não anda bem em nossa vida, avaliar os erros cometidos, aprender o que for necessário, fazer a correção de rota e criar soluções. Contudo, não é produtivo ficar preso nos cenários negativos. Persistir em focar nos erros ou coisas ruins, desenvolver uma crítica negativa e destruidora, nada trará de bom ou positivo à pessoa que desenvolve essa forma disfuncional de olhar para sua vida.

Acreditar que as pessoas não gostam de você. -> Estou certo e convivo com o fato de que não agrado a todos, pois essa é uma condição existencial das relações humanas. Em contrapartida, acredito também que existem pessoas que gostam de mim. Conforme o ditado, não podemos agradar a Gregos e Troianos. Se você tem a ideia de que os outros não gostam de você, recorrentemente em sua mente, faça o exercício de contestação. Elabore uma lista com dez pessoas que acredita que gostam de você. Conseguiu completar a lista? Caso afirmativo, me diga, para que manter essa crença irrealista e disfuncional? Se eventualmente a ideia permanecer, perceba o que está fazendo para que isso ocorra novamente. Lembre-se que, pessoas que não o conhecem não têm razões para não gostar de você. Quando você conhece a pessoa, no primeiro contato, você tem a grata oportunidade de estabelecer uma relação sustentável, gregária e apreciativa. Se for o seu caso, invista nisso.

Racionalizar o seu mau comportamento. -> Sem exceção, temos momentos em nossas vidas que nos comportamos mal. Por vezes, demonstramos agressividade em nossas palavras, somos injustos com uma pessoa ou mesmo, não estamos atentos a quem necessita de nossa ajuda. Mas, quando nos comportamos indevidamente de forma crónica e racionalizamos tal comportamento desajustado, tornamo-nos cegos e não investimos em nosso aprimoramento comportamental. Ter maus comportamentos não nos torna necessariamente más pessoas, mas sim, quando esse comportamento se torna intencional e recorrente. Agindo desta forma, não existe espaço para o crescimento pessoal, e com isso, sua felicidade fica comprometida em função de suas atitudes. 

Colocar a culpa de tudo em si mesmo. -> Algumas pessoas acreditam ter pouco valor, habilidade ou recursos, em razão disso, sentem-se culpadas pelas coisas negativas ou ruins que lhes acontecem ou estão relacionadas a ela. Colocar-se como centralizador da culpa, por tudo o que acontece de ruim em sua vida, ou na de outros, pode servir como estratégia para fugir da realidade e assim sentir-se mais confortável e seguro em “seu mundo”.

Se este é o seu caso, não se culpe por nada e nem por ninguém - isso é irracional! Observe se essa culpa já não se transformou em algo aceito, acomodado e que acredita ser esse seu único e melhor recurso para lidar com situações adversas e incómodas em sua vida. Por um momento, isole-se da situação e, avalie o que está acontecendo de fato e veja se é necessário e positivo culpar-se ou se é mais funcional perceber o que pode mudar em suas ações ou na situação, para que na próxima vez, reaja positivamente, de forma nova e melhor para si.

Atuar como um realista focado no passado. -> Você acredita que sendo realista será mais objetivo? Será mesmo um realista ou um “realista” vivendo de seu passado? Reflita sobre: seu passado te explica, te define ou te determina?

Os cenários que vivemos atualmente são resultantes do que aconteceu ontem, na semana passada, no mês passado ou há vinte anos. Contudo, podemos também considerar que seu futuro será o resultado do que faz hoje, somado a sua “bagagem” de seu passado. Você pode focar no que quer realizar ou melhorar, isso orientará suas ações em seu presente visando criar um futuro diferente e melhor. Se for seu caso, saiba que pode livrar-se dos condicionamentos de seu passado e, pode a partir de agora, orientar sua vida focando naquilo que quer conquistar para seu futuro.

Liberte-se, pois não há nada que possa fazer concretamente com relação ao seu passado. Ele passou e não há como voltar o filme e inferir hoje em novas ações visando alterar o seu final. Existem algumas possibilidades com relação ao seu passado: aceite seus pensamentos, ações e reações como sendo as melhores possíveis para você, naquele momento. Não houve erro intencional, assim nada justifica seu sentimento de culpa. Perdoe a si e os outros envolvidos e, desfaça mágoas que tem arrastado vida afora. Esteja certo de que aprendeu com as lições vividas em seu passado, que evoluiu com ele e, que esteja construindo um presente/ futuro melhor e livre das repetições disfuncionais.

Acreditar e querer melhorias rápidas. -> Atualmente você vive em uma fase que, precisa aprender algo que julga ser necessário e urgente em sua vida, mudar um hábito específico, criar uma nova rotina ou estilo de vida e, deseja obter resultados imediatos com suas ações? Então, prepare-se para o desapontamento e fracasso! Se isso tem sido um fato recorrente em sua vida, significa que está ansioso e agindo desesperadamente. Demonstra que você precisa muito adquirir algo, mas talvez não esteja disposto a “pagar o preço” - fazer o que for preciso, no tempo necessário para realmente conquistar o que quer. Lembre-se, tudo na vida tem um tempo para a descoberta, aprendizado, maturação e assimilação. Algo rápido ou mesmo, instantâneo, só macarrão!

Não praticar a gratidão. -> Pense nas conquistas obtidas em sua vida e que te fazem feliz. Mais importante do que o prazer da própria conquista, é saber reconhecer sua capacidade, determinação e esforço, sentir-se privilegiado e grato por ter essa condição disponível em sua vida. Comumente, ignoramos as coisas boas que obtemos na vida, percebemos como algo “garantido” e de nosso merecimento. Penso na pratica da gratidão, como um hábito promotor de equilíbrio emocional e felicidade.

Esperar que os outros sejam a sua salvação. -> De fato, não sabemos o suficiente sobre muitas coisas e normalmente, precisamos de alguém para nos ajudar. Essa afirmação pode ser verdadeira, como também, pode servir como justificativa para não entrarmos em ação, esperando que alguém o faça por nós. Desta forma, vamos deixando, cada vez mais, de nos responsabilizarmos por nosso desenvolvimento e melhoria de vida. Tal comportamento, dificilmente se deve às pessoas serem preguiçosas, mas sim, em razão de suas crenças disfuncionais, como: incompetência ou incapacidade ou ainda, a escolha consciente de não abandonarem sua zona de conforto e viverem novas experiências.

Marcio Caldellas – Psicólogo clínico, Personal, Career & Executive Coach certificado pela Sociedade Brasileira de Coaching e BCI – Behavioral Coaching Institute – USA. Sólida carreira desenvolvida em Executive Search como Headhunter atuando com posições executivas. www.mccoaching.net

Adaptado de Miguel Lucas em Felicidade