Em um dia como hoje, 12 de maio, Dia Internacional do Enfermeiro, não poderia deixar de abordar a importância da Enfermagem e valores da Ciência neste século.

A enfermagem contemporânea comemora hoje o seu bicentenário, que tem como marco de início de suas atividades a Guerra da Crimeia, no período de 1853 a 1856 com Florence Nightingale (12 de maio de 1820 – 13 de agosto de 1910).  Nesse período ela ficou conhecida como a “dama da lâmpada” ao prestar assistência aos feridos de guerra durante o período da noite com o uso de uma lamparina. Tal feito não era realizado até então, pois, a noite era para dormir somente.

Florence não se contentou em servir aos doentes somente neste período de guerra. Em Londres no ano 1860 ela fundou a primeira escola de Enfermagem (no mundo) no Hospital St Thomas, onde hoje funciona um museu em sua homenagem (veja mais em https://www.florence-nightingale.co.uk/st-thomas-hospital/). Lá iniciou os estudos científicos que hoje conhecemos como as medidas para o controle de infecção, a separação dos doentes de acordo com a gravidade e estudos em estatísticas, com o uso de infográficos.

Com o que aprendeu no período da Guerra da Crimeia ela publicou o estudo “Notas sobre questões que afetam a saúde, eficiência e Administração Hospitalar do Exército Britânico” de 800 páginas, resultando na criação na Comissão Real de Saúde do Exército. Esta comissão foi considerada uma melhoria na assistência à saúde ao exército britânico. Florence assumiu desafios ao provar o valor da ciência nos cuidados a saúde das pessoas em um ambiente tipicamente masculino. Imaginem a dificuldade e desafios que foram enfrentados por esta jovem mulher.

Consequentemente, a preocupação com a importância de dados científicos e de estudos que possibilitem provar melhorias e tratamentos aos cuidados de doentes não é uma descoberta recente, e muito menos exclusiva do nosso século atual. A preocupação ocorre há mais tempo do que alguns de nós podemos imaginar. Em pleno Século XIX, quase 200 anos atrás, a ciência já mostrava o seu poder de esclarecimento e de busca constante por novos tratamentos e cuidados.

Poder de esclarecimento que nos dias atuais mostra-se cada vez mais necessário mediante o quadro de pandemia que o mundo vive com o Covid-19.

São muitas as discussões sobre estudos divulgados, vistos, publicados e comentados, por vezes sem o real valor científico. A avaliação de metodologias a serem consideradas adequadas no desenho de um estudo poderão dizer sobre a validade e aplicação de dados obtidos. Por exemplo, ao avaliar uma medicação em um estudo com seres in vitro, não é possível afirmar que a medicação tem efeito em seres vivos, ou in vivo. O que o dado obtido pode afirmar é sobre o sucesso nesta fase inicial, para seguimento em fases mais avançadas. Por isso, os estudos são classificados como pré-clínicos e estudos clínicos (que são divididos em fase I, II, III e IV). Bem como a aplicação de tratamentos em populações consideradas de maior ou de menor risco podem também revelar a importância dos dados obtidos e avaliados. Ao se aplicar determinado tratamento em uma população com menor risco, não é possível estender a aplicação desses dados para diferentes populações que possuem sintomas e sinais não compatíveis ou simplesmente relativos sem a adequada realização de novo estudo.

 No caso do Covid-19, a humanidade e a ciência ainda engatinham ao tentar decifrar os prejuízos ao corpo humano e a trajetória, evolução e comportamento do vírus.  Muito tem sido descoberto a cada dia e divulgado, e cada qual tem a sua importância para a busca do comportamento do vírus no corpo humano. Do mesmo modo, que ainda engatinham também na busca de medicamentos, tratamentos e vacinas minimamente eficazes. Diariamente os meios de comunicação vendem informações mal interpretadas (do ponto de vista científico) sobre possíveis novos tratamentos. Sem o julgamento prévio de um profissional voltado para o aspecto científico, para a avaliação da metodologia, avaliação estatística e discussão de resultados, a população pode ser direcionada a acreditar em fatos de baixa relevância e a se agarrar a este falso resultado. O que gera falsas esperanças em cenários desesperançosos.

Diante disso o olhar crítico e científico precisa estar apurado. O conhecimento da ciência como um dos bens mais preciosos precisa estar em foco. A seriedade dos estudos, sua divulgação de maneira cuidadosa perante à comunidade em geral, precisa ser criteriosamente avaliada.

Não temos a cura. Não temos vacinas. Temos estudos, cientistas e profissionais da saúde efetuando um trabalho duro para lidar com esta pandemia. Precisamos acreditar na ciência e investir na melhoria da nossa ciência. Pois somente assim, poderemos nos proteger, nos precaver e buscar a cura e tratamentos para este grande mal que nos aflige mundialmente chamado Covid-19.

 Juliana Ap Borges de Oliveira - Enfermeira e Consultora em Pesquisa Clínica