Fato: o Brasil vive uma crise sem precedentes, para não dizer uma depressão, um colapso, que fez com que mais de 12 MM de pessoas perdessem seus empregos. Uma quantidade, salvo as devidas proporções, quase similar ao colapso da bolha imobiliária Americana, nos meados de 2007 e 2008 (que afetaram o resto do mundo de forma generalizada).

Segundo o PEA, 126 MM de pessoas são economicamente ativas atualmente, o que significa que 10% delas estão sem renda (ou seja, declararam que estão sem nenhuma atividade), mesmo que informal.

Muito preocupante. Isso pode ser sentido nas redes sociais, onde várias pessoas, independentemente do nível (do Operacional ao Executivo) tem sentido esse impacto. No entanto, há estudos e tendências que comprovam que isso melhore a partir do 2º trimestre de 2017. Até lá, realmente tudo está muito instável.

Por outro lado, na outra ponta, vamos falar de quem está em busca de recolocação.

Tenho conversado com muita gente, muita mesmo, da minha rede e falamos não só sobre ajuda de recolocação, envio de CV’s ou dicas, mas também de outros assuntos. E um dos que mais me chamaram a atenção é a quantidade de pessoas que têm aproveitado essa crise e, eventualmente o seu desemprego, para reavaliar-se: o que eu fiz até agora fez ou faz sentido? Quero voltar a essa área pela qual fiquei 10, 15 anos da minha vida. Creio não termos mais os períodos de crises: Crise dos 30, Crise dos 40, etc., mas sim, crise existencial propriamente dita. Ora, se cada dia e ano que passa, é um dia e um ano a menos que temos nesse mundo, não faz muito sentido se desgastar e gastar uma energia imensa em um trabalho desconexo com sua essência, e que não tem trama com seus valores e com o que quer para a sua vida.

Além do meu trabalho formal como Coordenador de RH em um farmacêutica, possuo uma “Start Up” (Consultoria de Avaliação Psicológica) que tem sido um laboratório e trazido dados bem interessantes. Um de nossos serviços oferecidos é o de Orientação Profissional e de Carreira (aquela antiga Orientação Vocacional para pré-universitários e jovens de início de carreira) e pasmem, 61,6% dos nossos clientes são pessoas com faixa etária entre 35 e 50 anos. 85% (desses 62%) estão em busca de recolocação e estão reavaliando se querem voltar à mesma área ou se aproveitarão esse momento para refletir sobre suas vidas e o que querem de si. No final das contas, todo queremos pagar a hipoteca, o aluguel, a escola dos filhos e ter uma vida digna. Mas será que não dá para fazer isso tentando fazer o que gosta? Sei que nem todos vão conseguir esse privilégio, mas muitos não tentam. São programados, pela sociedade e pelo ambiente a agirem e responderem por ciclos: boa escola, boa faculdade, idiomas, Pós/MBA, experiência no exterior, carreira de 16 horas por dia e aposentadoria aos 65 anos. Não critico quem tem essa intenção como plano de vida. Isso realmente pode fazer sentido para muitas pessoas: pois são valores em que ela acredita. Mas ouvi uma frase de um dos meus orientandos: “Márcio, não vou mais seguir a área financeira, pois sempre odiei números. Sempre quis trabalhar com pessoas, mas minha facilidade de entregas e minha dedicação aos números me levaram a ser um Controller e todo dia que me levanto de manhã, não tenho mais tanta energia para ir ao trabalho”. Isso não pode estar certo. Descobrimos, através da avaliação tipológica dessa pessoa que o mesmo tem um perfil tipológico muito voltado à área de Assistência Social e Psicologia. A partir desses resultados, o mesmo fez um plano de 12 meses e irá montar um negócio próprio que atenda essas necessidades (ele ainda não tem ideia do que vai ser, mas está se planejando). Obviamente, os ganhos, vão cair vertiginosamente, principalmente no início. Mas se a pessoa está disposta, acorda de manhã e se sente feliz, isso já se paga. E de que adianta ter um salário alto, bons benefícios, e recorrer a antidepressivos, ansiolíticos para aguentar a rotina e esperar a tão sonhada aposentadoria para fazer o que gostar? Será que com esse estilo de vida você chegará lá!?Não tenho tantas certezas, pois, biologicamente falando, o corpo reage de forma agressiva quando fazemos algo em que não estamos engajados. Isso se transforma em problemas somáticos e em logo prazo, em doenças sérias e incapacitantes: como a Síndrome de Burnout e Depressão Profissional.

Nossa ambição por cartões envernizados, salas luxuosas, carros da empresa nos hipnotizam e fazem com que tenhamos apenas uma opção na vida: Ser um profissional/executivo de sucesso. Não existe outros caminhos? Existem inúmeras outras formas de se ganhar a vida, sendo um empreendedor, montando uma consultoria, trabalhando por projetos que tem mais afinidade.

Precisamos desmistificar aquele padrão de que, para se bem-sucedido, precisamos ter o carro do ano, roupas de grife, belos apartamentos e escritório.

Ser bem-sucedido é olhar para aquilo que você faz e ver sentido, principalmente o impacto que o seu trabalho tem no mundo e nas pessoas. Isso, nenhum relatório gerencial, planilha, Dashboard ou Analytics System pode te dar (talvez, no máximo, um “excelente trabalho” do seu chefe), que ganhará um bônus “bem godo” pelo seu trabalho bem executado.

Aproveitem esse momento “sabático forçado” e tente se conhecer melhor. Façam reflexões, avaliações, procurem pessoas que possam te auxiliar a não voltar ao mercado de trabalho como um robô e ator, atuante dentro de uma sociedade totalmente invertida, onde os valores estão à margem e o que está em alta é o ganha-ganha, a politicagem, o “jeitinho”.