Após quase 10 anos palestrando sobre pensamento estratégico percebi que a maioria das pessoas que sentem necessidade de desenvolver esta competência traz uma preocupação com a sua real capacidade de fazê-lo por associá-la a um talento inato; algo que dará muito trabalho para conseguir já que não veio dentro do “pacote” de habilidades que demonstrou desde pequeno. Felizmente, a preocupação não deteve a iniciativa de muita gente em buscar este desenvolvimento assistindo às palestras e “workshops” que ministrei até aqui, e foi sempre muito prazeroso receber o retorno sobre o aprendizado que obtiveram. A “surpresa” é causada pela percepção de que pensar estrategicamente é uma habilidade que se pode, sim, desenvolver e aprimorar desde que se esteja atento não apenas ao que é necessário para isso, mas também ao que nos atrapalha e distancia deste objetivo.

Primeiramente é preciso ter o entendimento correto do significado de “estratégia”. O que escolhi como o mais adequado é: uma decisão (ou conjunto de decisões) sobre COMO proceder para se chegar a um objetivo pré-determinado. Esta definição já traz implícito quais são os dois maiores sabotadores do pensamento estratégico: o hábito de se começar a agir antes mesmo de se definir um objetivo claro e norteador, e a noção (falsa) de que estratégia representa uma ação. Estratégia é o meio, o caminho a ser trilhado por meio de um plano de ações. Seja devido à urgência, à pressão, ao excesso de confiança ou a tantos outros fatores que deixam a pressa dominar suas atitudes, muitos deixam de pensar estrategicamente ao começar a execução sem a garantia de que se está no caminho certo para chegar ao seu objetivo.

A melhor maneira de começar a desenvolver o raciocínio estratégico então é sempre se perguntar, antes de agir, o porquê. Onde se pretende chegar e por quê? A resposta deve conter explicitamente o objetivo. Mas ainda assim não é o momento de se definir a estratégia e o plano de ação.

Uma vez definido onde se quer chegar, é preciso fazer uma análise de CENÁRIOS prováveis e seu impacto, a começar por uma análise do cenário externo, que vai determinar a existência de oportunidades ou ameaças, seguida pela análise do cenário interno (à organização, departamento, Divisão etc), que vai identificar as forças e as fraquezas diante dos fatores-chave de sucesso para se alcançar os objetivos. Esta análise dos ambientes externo e interno deve preceder a elaboração da estratégia, pois o MEIO de se chegar ao objetivo será composto de decisões para se atenuar as ameaças e aproveitar as oportunidades, tirando proveito dos seus pontos fortes e procurando minimizar o peso dos seus pontos fracos.

Esta sequência de análises coincide com o roteiro básico de um processo de “planejamento” estratégico, mas quando falamos em “pensamento” estratégico nos referimos ao modelo de raciocínio para a tomada de qualquer tipo de decisão, seja em relação a um negócio, um projeto ou qualquer situação de rotina ou da vida pessoal.

Um exemplo simples pode ser quanto à tomada de decisão sobre carreira profissional. Antes de tomar qualquer iniciativa em relação a cursos, busca de qualificações etc, é imprescindível ter claro onde se quer chegar. Aí então se busca identificar que fatores poderão se constituir em oportunidades que ajudarão a se evoluir em direção ao objetivo e quais fatores, pelo contrário, poderão representar ameaças que trarão obstáculos. Conhecendo bem seus pontos fortes será possível potencializá-los a favor das oportunidades e como escudo contra as ameaças, da mesma forma que os pontos fracos poderão ser desenvolvidos para que não aumentem os riscos.

Em projetos de Vendas, onde muitos caminhos podem conduzir aos resultados esperados, porém com diferentes tempos de execução, níveis de custos, impactos em outros indicadores da organização etc, a habilidade de pensar estrategicamente se demonstra ao decidir o caminho tomando por base a mesma sequência de raciocínio: objetivo, oportunidades, ameaças, pontos fortes e pontos fracos. A maneira de se buscar o resultado escolhida a partir desta abordagem com certeza será mais eficiente do ponto de vista de tempo e recursos. Daí em diante é assumir o compromisso com a execução.

Líderes não precisam ter todas as respostas prontas para se definir estratégias, pois com a habilidade de pensar estrategicamente e, mais que isso, ao desenvolver a mesma habilidade em sua equipe, poderão enriquecer as análises para tomada de decisão e definir rumos com maiores chances de sucesso. Inúmeras vezes enquanto líder tive experiências de conversas para buscar estratégias com a equipe estimulando o raciocínio para que as ações só fossem decididas depois de concluir uma análise em consenso. Posso afirmar que foram todas oportunidades únicas de trabalho em equipe, aproximação com os membros (e entre membros) e aprendizado mútuo, fortalecendo o engajamento e potencializando resultados.