Esta semana trago para vocês uma reflexão baseada no dito popular  “Pai rico, filho nobre, neto pobre”. Embora este ditado se aplique muito bem em estudos de caso de linha sucessória em empresas familiares, darei um outro contexto com base nos erros mais comuns na contratação de funcionários.

Certa vez um profissional de RH de uma multinacional, reconhecido pela sua assertividade nas contratações, resolveu abrir um restaurante e claro, usou de todo seu conhecimento de R&S. Meses depois ele se deparou com um fantasma: alto absenteísmo e turn-over, desmotivação, descompromisso dos colaboradores, perdas excessivas com reposição de materiais mal manuseados, desperdício e desonestidade mesmo aplicando feedbacks, reuniões e treinamentos, nada resolvia. Enfim, compartilhou seu problema (brainstorming e benchmarking) de modo a buscar uma solução.

Após várias rodadas de discussão, um parceiro o interroga: Você sabe se seus funcionários são ricos, pobres ou nobres? O gestor, ironicamente respondeu que eram pobres, porque recebiam pouco mais de um salário, moravam perto do restaurante e não tinham muita condição e estudo. Novamente seu parceiro o questionou e pediu que refletisse bem. O gestor novamente deu a mesma resposta.

Vendo que seu amigo não entendera a questão ele mesmo respondeu: Você é que pensa que seus funcionários são pobres! Na verdade eles são nobres, por isso não vão se dedicar e você vai viver nessa ciranda sem fim até fechar as portas.

O que quero discutir com vocês é que o perfil dos profissionais na contratação influencia a forma como eles se integrarão no negócio independente dos resultados dos testes, da assertividade e inteligência. Entendam o porquê:

RICO: Este é o profissional que chegou ao topo da carreira, que trabalhou com afinco, que vestiu a camisa da empresa e se tornou um médio-alto executivo,gerente, diretor, presidente ou dono da companhia. É um batalhador que está, digamos, nas partes mais altas da pirâmide.

POBRE: Este é o profissional da base da pirâmide, igualmente batalhador, valoriza seu emprego e precisa demais dele. Ele veste a camisa da empresa. Pode se tornar um “rico” ou apenas manter-se no estágio em que se encontra, mas sempre mostrando dedicação e muito serviço.

NOBRE: Este é o “amigo do rei”, ele se acha “o cara”, porque tem contatos, influências ou uma situação que pouco importa sua condição social-financeira, ele está sempre surfando na onda de alguém e não se engaja. Ele é vítima do sistema, injustiçado e explorado. Seus resultados são sempre medianos ou ínfimos, ele vive de articulações, intrigas, reclamações e fofocas.

No caso do nosso gestor (fato verídico), seus funcionários trabalhavam apenas para ter um “dinheirinho” pouco importando se amanhã estariam desempregados ou não. Para eles, quebrar um copo ou um prato, atender mal a um cliente ou faltar de serviço é normal e não prejudica em nada, aliás, são explorados pelo patrão cruel.

Eu sempre questiono meus candidatos: “Numa escala de zero a dez, qual a sua necessidade de trabalho”? Após ouvir a resposta , desconverso para entender históricos familiares e volto na pergunta ao contrário “ Porque sua necessidade é 8 e não 10? Ou: porque é tão alta e não um pouco mais baixa”? Esta é uma das variadas técnicas para sondar se estamos contratando um pobre, rico ou nobre.

Sempre é bom saber que o rico e o pobre são imprescindíveis, mas o nobre é totalmente descartável.

Também vale ressaltar que ricos ou pobres demonstram uma prévia predisposição ao cargo, o que não quer dizer que possuam competências técnicas para assumi-lo. Caberá ao RH continuar as devidas checagens de adesão do perfil à vaga.