Afinal quem define o que somos? A lei ou o mercado?
A profissão de propagandista da indústria farmacêutica foi legalizada por meio da Lei 6224/75. Lá se vão mais de 40 anos. De 1975 pra cá, o mercado farmacêutico brasileiro cresceu, mudou e se expandiu assustadoramente. Muitos fatos históricos marcaram o ritmo acelerado desse mercado: a liberação de preços, o surgimento dos biotecnológicos, a distribuição de medicamentos para pacientes portadores de HIV pela rede pública, a explosão dos genéricos, o crescimento do mercado de cosmiatria e cuidados com o corpo, o surgimento dos nutracêuticos, isso sem falar em mercados distintos como o de dispositivos médicos (stents, equipamentos, mobiliário hospitalar, etc). E essas mudanças seguem sendo um tsunami, ainda mais em tempos de Covid19.
Voltando a algum lugar entre os anos 70 e hoje, nesse meio tempo, Bill Gates, Steve Jobs e Steve Wosniak deram sentido prático aos computadores pessoais, os celulares vieram junto e tudo isso encheu nossas casas, carros e nossas pastas de tecnologia. Todas essas coisas interagindo com nossa rotina de trabalho, estudo e lazer. Outros modelos disruptivos nos cativaram. Compramos quartos de quem não tem hotel (Booking), alugamos casas de quem não é imobiliária (AirBnb) e pedimos táxis para quem não tem taxis (Uber).
Os médicos também mudaram. E mudaram não somente porque são médicos, mas porque são pessoas. A profissão médica passou por mudanças, onde um médico precisa assimilar hoje um volume de informações muito maior do que em 1975 para conseguir trabalhar. A solução foi buscar a especialização. A população aumentou e está envelhecendo. A expectativa de vida do brasileiro mudou drasticamente – em 1975 era de 60,04 anos e em 2012 passou para 74,6 anos. Além de mais velho, o paciente ficou mais complexo e bem informado (e mais impaciente). As doenças ficaram também mais complexas, sem que patologias mais simples como uma dor nas costas ou uma tosse acompanhada de febre deixassem de existir. Como conversar com esse médico que vive nesse redemoinho? Porém, como se não fosse muito, a teleconsulta e a telemedicina estão “invadindo” a rotina médica de uma forma jamais vista. Com o avanço do Coronavírus, o Hospital Albert Einstein viu sua estrutura saltar de 30 para 600 atendimentos virtuais/dia.
A toda essa complexa realidade, o mercado farmacêutico foi dando respostas ao longo do tempo. As empresas foram segmentando e sofisticando seus meios para compreender as mudanças e adaptando a forma como conversa com seus clientes. O propagandista, como principal meio de contato com o cliente, não ficou imune a isso. Surgiu o Representante especialista, o Key Account de farmácias, o Representante OTC, o Consultor para produtos de alto custo, o Representante para Virologia, Consultor Oncologia, Especialista de Produtos, O MSL e outras tantas designações. E, neste momento, a migração do modelo de visita predominantemente presencial para Multicanal irá exigir destes profissionais um aprendizado até então repleto de facetas, resistências e senões.
A lei muda muito lentamente em nosso país e quando falamos em questões que envolvem o trabalhismo, é o buraco é mais embaixo, ao contrario das dinâmicas de mercado. Por mais que a essência da profissão seja o propagandista de 1975, quem vai designar o nome da sua função ao entrar na Indústria Farmacêutica é a empresa que lhe propuser o desafio. Representante? Consultor Técnico? Especialista de Produtos? MSL? Vai depender do segmento, da abordagem e dos conhecimentos que terá que absorver para realizar o trabalho. Uma coisa é certa: a despeito da lei, a Propaganda Médica jamais será a mesma, seja hoje ou no futuro. E nestes momentos de pandemia, nunca foi tão fácil e urgente entender isso. Não precisa desenhar, né...