Enceto esse artigo compartilhando uma situação pessoal: outro dia, minha esposa, que também trabalha com RH, chegou desesperada de uma palestra que tinha ido assistir na IBM sobre o Watson. Seu temor era tamanho que a mesma dizia: “Vamos ficar todos desempregados”.

Ela, que até então tinha ouvido falar pouco sobre o tema, tinha se aprofundado em uma demonstração do que a ferramenta faz e confesso que, no primeiro momento, assusta um pouco, pois também me assustei quando vi pela primeira vez.

Mas como sou interessado e estudo isso há algum tempo, vejo com bons olhos, assim como toda tecnologia que vem para nos auxiliar. O problema é que o ser humano, apesar de ser muito adaptável, mudanças muito bruscas que quebram sua rotina e ameaçam sua sobrevivência tendem a ser vistas como negativas. Afinal, somos animais e lutamos pela nossa sobrevivência e de nossa família. E tudo o que é novo, é como se fosse um leão jovem “rodeando” nosso território para assumir o que nos pertence.

Mas isso é histórico. Vejamos:

Há 33 anos atrás, era criado o primeiro computador pessoal e adivinha por quem? Sim, a própria IBM. O PC 5150[1] foi um sucesso total, que o planejamento de vendas de cinco anos foi realizado, pasmem, em um mês.

Antes disso, porém, em meados de 1976, a Apple, do nosso eterno Steve Jobs, já tinha essa ideia que, para a época dos grandes Mainframes, era inconcebível. Lembrando que isso não foi um complexo projeto, mas sim, uma brincadeira de um dos “hobbies” do gênio Wozniak, grande amigo de Steve e, em seguida, um dos fundadores da gigante Maçã.

Então, embora a IBM tenha se popularizado com seus PC’s 5150, rodando o sistema operacional Windows (cópia grotesca de Bill Gates) que antes, era da trupe do Steve Jobs e saiu porque suas ideias eram incompatíveis, o primeiro computador pessoal foi criado por Steve Jobs e Wozniak. Daí para a frente, a Apple se saiu melhor, lançando o Apple II, Lisa, Macintosh e somente em 1998, com sua volta à empresa, o iMac nasce, assim como o Ipod, em 2001 e o Iphone, em 2008 (que foi o primeiro aparelho Touch – fora os “guerreiros” Palm’s Tops”) que não necessitavam de caneta.

Bom, para não virar uma aula de história do computador, que todos já conhecem, essa introdução foi inevitável, pois, o que seriam dos Datilógrafos, de pessoas que tinham seus empregos ligados a arquivos de papel? Sobrevivemos e nos adaptamos.

E depois veio uma tal de internet, na verdade web, pois Internet é o nome de um dos navegadores. Esse sistema surgiu com os militares em 1969, passou por grandes universidades americanas na década de 70 e 80 e se popularizou no mundo nos anos 1998, ano em que Larry Page e Sergey Brin fundaram uma empresinha chamada Google (alguém conhece?)

Quem se recorda das Enciclopédias Barsa?

Sim, existiu um “Google” de papel. Lá podia se achar de tudo, desde história natural até princípios da medicina. Hoje em dia alguém vive sem o Google? Acho pouco provável. E quem acha que o Google não usa Inteligência Artificial está enganado. O próprio Google tem inúmeras soluções que usam essa inovação. O próprio navegador, onde você nem precisa mais digitar, basta dizer o que quer e ele busca, assim como a Siri, da Apple, mais aperfeiçoada e “inteligente”, consegue até enviar mensagens de textos sem que você toque no aparelho. Já vi gente conversando com “ela” quando está sozinho, fazendo perguntas “toscas” só para ouvir a resposta. E o Waze (que também é da Google), onde você fala para o aplicativo onde quer ir e ele traça sua rota com precisão cirúrgica.

Ah sim, tem as redes sociais, que foram criadas por quem? Pelo Google. Sim, se chamava Orkut, sendo criada em 2004, foi uma febre por muitos anos, até ser desativada 10 anos depois, em 2014. Coincidência ou não, no mesmo ano de fundação do Orkut, Mark Zuckerberg começou, em meio uma cerveja e outra, apenas por diversão,  a escrever o código para um novo site, conhecido como “thefacebook[2]”, que era utilizado ainda, apenas como uma rede interna entre as universidades dos EUA. Em 2005, a rede se expande para todo os EUA e para o Reino Unido. Em 2010, foi inevitável, o Facebook explodiu, fazendo com que o seu principal concorrente, o Orkut, fechasse as portas quatro anos mais tarde.

E alguém acredita que o Facebook, que conta com nada mais, nada menos do que 1,65 bilhão[3] de usuários não utiliza IA? O tempo todo. Como? Monitorando seu comportamento através das suas postagens e interações sociais, te oferecendo produtos mediante seus posts e gostos, te indicando amigos que possuem os mesmos interesses que os seus, enfim, para não me estender, até a avó da minha esposa de 90 anos tem facebook (para encerrar o assunto).

Vamos um pouco mais além. Agora, voltando ao nosso tema central. Impactos da IA no RH e no mundo dos negócios. Bom, eu comecei trabalhando em uma pequena consultoria de RH, em 2004. Minha tarefa: triagem de currículos. Equipamentos padrão: luvas cirúrgicas (para não se contaminar ou se chocar com alguma barata nas dezenas de caixas de papelão cheias de currículos em papel). Extrator de grampos e grampeadores (para tentar ordenar os currículos que tinham, em média, 04 folhas cada) e muita paciência.

É, você deve estar assustado, mas as pessoas da época saíam para a rua com dezenas de currículos em uma pasta e entregavam na portaria das empresas. Sabe por que? Não existia uma ferramentinha chamada Linkedin. Tínhamos alguns sites de vagas, pagos, iniciados pela Catho, depois curriculum.com, infojobs, e vários outros. Mas o marco histórico na IA que marcou o RH foi o Linkedin, fundado em 2002 e lançada em 2003, nos EUA.

 “Em novembro de 2007, tinha mais de 16 milhões de usuários registrados, abrangendo 150 indústrias e mais de 400 regiões econômicas (como classificado pelo serviço). Em janeiro de 2015, Linkedin possuía mais de 347 milhões de usuários registrados em mais de 200 países e territórios.[4]

Hoje, a rede social voltada para o mundo corporativo, conta com aproximadamente 500 milhões de usuários[5] e foi adquirida pela Microsoft em 2016 por US$ 26,2 bilhões. Atualmente, se você não está no Linkedin, “você não existe para o mundo corporativo”, porque é uma das únicas plataformas de rede social que conecta profissionais (embora que, com a crise, ela tem se “facebokizado”).

O curioso é que muita gente liga o Linkedin a um site de empregos. E é exatamente o que ele não é: a plataforma é uma rede de conexões, que dispõe de ferramentas que aumenta seu network e é uma grande rede de negócios. Já vi empresas sendo montadas através do Linkedin. É óbvio que, como é uma rede voltada para profissionais, as empresas divulgam suas vagas por lá, mas essa é apenas uma das inúmeras funcionalidades dele.

E será que o Linkedin não utiliza IA? Claro que utiliza. Tanto é que já possui, há quase dois anos, ainda de forma velada, agora um pouco mais popularizada, o SSI (Social Selling Index), traduzido para o português simples, seria Índice de Venda Social (lembra muito “Black Mirror”, não é? Mas na realidade, nada mais é do que um número, mas de grande relevância, pois esse número é que te ranqueia na rede social. É ele que determina se você fica no topo e à vista dos recrutadores. Então, de nada basta ter um perfil Campeão no Linkedin (que exige apenas o preenchimento dos dados e uma foto – sem ser de casamento, sunga ou sem camisa, por favor).

Você deve se preocupar com seu SSI pois é ele que vai alavancar seu currículo, sua carreira, seu produto, sua empresa ou seu negócio.

Em tese, o que ele utiliza para te ranquear na rede? Apenas quatro quesitos básicos que vão de 0 a 25 pontos cada, totalizando 100 pontos. Eis os quesitos:

·         Estabelecimento de sua marca profissional (como você “se vende” no Linkedin e a coerência do seu histórico profissional, posts e artigos. Se você tem expertise em RH, em tese, não deveria escrever um artigo sobre física);

·         Localizando as pessoas certas (o que dizem é verdade: quantidade não é qualidade). Embora (minha opinião pessoal) eu aceite todas as pessoas que me adicionam, quando você for buscar conexões, deve enviar para as pessoas que possam agregar à sua rede/negócios. Quanto maior a compatibilidade das pessoas da sua rede com seu perfil, maior será sua eficácia na rede;

·         Interagindo oferecendo “Insights” – aqui há uma diferença muito grande entre “Insights” de Post. O que mais vejo são publicações e posts clichês, principalmente de “gurus” do In, com frases motivacionais, estórias comoventes, falsos relatos e até falsas vagas. Sabe aquela pessoa que faz 10 postagens por dia, mas que não tem nada a ver com sua área de atuação, não vai ajudar ninguém e nem oferecer algo de bom para quem lê? O que o Linkedin entende por “Insights”, e nessa categoria ele é bem rigoroso, são artigos e escritos de qualidade, matérias publicadas e material que possuem muitas visualizações, leituras, likes e comentários. Um post de 10 linhas, cópia e cola é fácil. Um artigo de 04 páginas, com conteúdo, é outra coisa.

·         Cultivar os relacionamentos – essa é uma modalidade das mais simples, mas que pouca gente utiliza. Cultivar relacionamentos nada mais é do que ler o que as pessoas postam, curtir, se você gostar, comentar, se você não gostar, desejar feliz aniversário aos seus contatos: lembre-se, eles são PESSOAS. Parabenizá-los por cargos novos e recolocações e acima de tudo, responder as mensagens que você recebe.

Então já vimos que há uma evolução, gradual, um pouco lenta na década de 60 e 70, acelerando em 80 e 90 e bombando a partir de 2000 e totalmente acelerada a partir de 2005.

Amigos e amigas. Isso não vai parar. Vai e deve continuar. A inteligência Artificial já existe há décadas. O temido Watson vem para, essa é minha opinião como estudioso do assunto, compilar a quantidade de informações que existe nessa nuvem de bilhões de usuários.

É um sistema para o processamento avançado, recuperação de informação, representação de conhecimento, raciocínio automatizado e tecnologias de aprendizado de máquinas.

De acordo com a IBM, "Mais de 100 técnicas diferentes são utilizadas para analisar a linguagem natural, identificar origem, localizar e gerar hipóteses, localizar e marcar evidências, juntar e ranquear hipóteses.[6]"

E ele não vai tirar empregos. Pelo contrário, vai te ajudar em processos que você odeia fazer como:

Recrutador:

Sem Watson -  ficar o dia todo no Linkedin buscando perfis adequados para a vaga;

Com Watson – “Watson, preciso que você me traga 50 perfis de um Gerente de Recursos Humanos, com inglês fluente, experiência acima de 10 anos, que resida na Capital ou grande São Paulo, que já tenha atuado como HRBP, conheça Remuneração e Learning e também tenha atuado em folha e pagamento. Quero que o mesmo tenha uma inteligência dentro da média, Atenção concentrada acima da média e um perfil operacional, de preferência, ENTJ”. Pronto: em 10 minutos, você terá os seus 50 perfis para, agora sim, poder analisar, ligar, debater experiências e otimizar seu tempo.

                A inteligência artificial não será, pelo menos por enquanto, como o filme “Eu, robô”, com Will Smith. Mas sim, já temos robôs, que utilizam o conceito de IA e robótica para procedimentos simples para os humanos, como empilhar caixas, limpar casas, dirigir um carro. E com o tempo isso evoluirá. Extinguirá vários empregos, principalmente mais operacionais? Sim, é uma verdade inevitável, mas também surgirão inúmeras outras oportunidades e vagas de emprego que ainda nem existem.

                Portanto, não há o que temer. A Inteligência Artificial veio para nos auxiliar, mas cuidado: as pessoas, num futuro bem próximo venderão não mais seu tempo, mas sua expertise. Pois acho pouco provável que façam um robô que faça entrevistas e tenha a capacidade de ter rapport, mas você precisará desenvolver suas habilidades de ter rapport, de análise dos dados trazidos pela IA, capacidade analítica para auxiliar o gestor. As atividades ficarão mais complexas sim, porém, mais desafiantes e motivadoras.

E que venha o futuro

 



[1] Fonte: Tecnologia - iG @ http://tecnologia.ig.com.br/2014-08-12/computador-pessoal-faz-33-anos-conheca-a-historia-do-ibm-pc.html

 

[2] Wikipédia

[3] http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2016/04/facebook-atinge-marca-de1-bilhao-de-usuarios-todos-os-dias.html

[4] Wikipédia

[5] http://idgnow.com.br/internet/2017/04/24/linkedin-alcanca-a-marca-de-500-milhoes-de-usuarios-pelo-mundo/

[6] Wikipédia