Os bons resultados que muitas pequenas e médias empresas estão colhendo, quando preferiram a contratação de profissionais mais “velhos” e experientes para exercer determinadas funções e tarefas, se devem a necessidade de uma experiência e conhecimentos diferenciados, e que agregam valor não só com a teoria, mas também com anos de trabalho e conhecimento, a “prática”.

Esta matéria foi publicada na folha de São Paulo cerca de 4 a 5 anos atrás, e acredito que possa servir como um exemplo a ser seguido pelas empresas que querem algo diferente.

Na TW Transportes, em Carazinho, a 300 quilômetros de Porto Alegre, pelo menos um terço dos 112 motoristas da empresa já passou dos 45 anos de idade. Não se trata de um processo de envelhecimento do quadro funcional, mas de critérios que a TW, com faturamento anual de 65 milhões de reais, vem utilizando para a contratação de seus motoristas. "No recrutamento, sempre damos preferência para pessoas com mais experiência", diz Ana Paula Schmitz, que era diretora administrativa da TW Transportes na época.

Por trás dessa política havia uma razão prática - as estatísticas da transportadora revelaram que esses profissionais mais maduros tinham a tendência de envolverem-se menos em acidentes nas estradas. Nos últimos três anos (entre 2012 a 2015 é a data aproximada dessa matéria), a TW registrou seis acidentes. Em apenas dois os motoristas tinham mais de 45 anos. "A maturidade leva esses profissionais a serem mais responsáveis e comprometidos com as normas de funcionamento e segurança da empresa", afirmava Alexandre Krümmel, que era na época gerente de frota da TW. "Eles adotavam uma direção mais defensiva, o que os tornavam bons profissionais para o transporte de cargas." O que poderia ser visto como desvantagem para os motoristas com idade mais avançada, a dificuldade em trabalhar com as novas tecnologias que os modernos caminhões trazem foi resolvida com cursos adequados para eles. "O custo com treinamento nessa faixa etária é maior, mas os resultados compensam", afirmava Ana Paula.

Assim como a TW, outras pequenas e médias empresas, principalmente das áreas de comércio e serviços, estão percebendo que pode ser vantajoso contratar funcionários mais maduros para determinados cargos. Essa estratégia tende a dar maiores resultados, em atividades que dependem de credibilidade, empatia, relacionamento, liderança e comunicação. Tomam a dianteira no processo empresas dos ramos de transportes, hotelaria, segurança, educação, limpeza, vendas imobiliárias e saúde.

 Muitas vezes, essas companhias acabam se beneficiando de trabalhadores que já passaram por grandes empresas e trazem consigo uma “bagagem” (experiência) importante para ajudar a deslanchar negócios que dependem muito do fator humano. "Um trabalhador maduro e bem preparado pode ser um fator de diferenciação para uma pequena ou média empresa", dizia o consultor em recursos humanos Aguinaldo Neri. Segundo Neri, em hotéis, por exemplo, a presença de funcionários mais velhos confere um clima acolhedor. Em transações imobiliárias, eles também podem transmitir certa sensação de segurança aos clientes mais jovens, que muitas vezes estão adquirindo o primeiro imóvel.

Essas pequenas e médias empresas interessadas em funcionários mais velhos estão acompanhando uma tendência observada em mercados mais maduros do que o brasileiro.

Inspirada em supermercados americanos e europeus, desde 1999 a rede de supermercados gaúcha Imec, em Lajeado, a 114 quilômetros de Porto Alegre, adotou a política de contratar pessoas com mais de 40 anos de idade para funções que exigem contato direto com o público. "Tivemos ótimos resultados", dizia Eunice Rotta Bergesch, presidente do Imec. "Os profissionais mais maduros têm maior empatia com os fregueses, dão dicas, trocam experiências e ajudam a torná-los fiéis." A rede possui 15 lojas espalhadas pelo Rio Grande do Sul e emprega 955 funcionários, sendo que mais de 15% ultrapassaram a barreira dos 40 anos.

A experiência de grandes empresas no exterior indica que a prática da TW e da Imec em valorizar a maturidade dá resultados. As maiores redes de supermercados inglesas - Asda, Tesco e Sainsbury's, há tempos vêm colhendo os benefícios de contratar funcionários com mais idade. Na Asda, por exemplo, em lojas onde a proporção de trabalhadores maduros é grande, as taxas de absenteísmo chegam a ser menos de um terço da média da rede. E na locadora de carros americana Avis são os trabalhadores mais idosos os menos contemplados com multas e acidentes de trânsito.

Em empresas europeias e americanas, o emprego de profissionais mais maduros e experientes, com bagagem profissional começou, em parte, como consequência do envelhecimento da população, (o que está ocorrendo no Brasil atualmente). Como por aqui não há, ainda, dificuldade de encontrar jovens no mercado, cabe ao empreendedor fazer essa escolha.

Depois dessa reportagem chega-se a conclusão, que as empresas que buscam profissionais com experiência para integrar seus quadros de colaboradores, saem na frente de suas concorrentes. E com isso conseguem enriquecer não só o compartilhamento dessas experiências com outros funcionários, mas também preparar e orientar os mais jovens, além de aumentarem o índice de credibilidade junto aos seus clientes, elevando com isso, o índice de fidelização destes, gerando um aumento de lucratividade, que é o objetivo de toda organização.

Compete às empresas que estão à procura de profissionais para suprirem deficiências em alguns setores começarem a analisar com mais carinho esses profissionais que conquistarão “know how” durante seus anos de prática. Principalmente quando diz respeito às micros e pequenas empresas, e porque não dizer também as médias empresas que podem agregar experiências com a prática e não só com a teoria.

Existe uma frase que algumas empresas deveriam ter anexada ao seu quadro de avisos:

“Teoria é quando se sabe tudo, e nada funciona. Prática e quando tudo funciona e ninguém sabe por quê. Neste recinto, conjugam-se a teoria e a prática: Nada funciona e ninguém sabe por quê.”

"Uma obra em que há teorias é como um objeto no qual se deixa a etiqueta do preço." (Marcel Proust).

"É longo o caminho por meio de teorias, mas breve e eficaz por meio de exemplos." (Sêneca).

"Toda a teoria só é boa na condição de que, utilizando-a, se vá mais além." (André Gide).

 
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