As mulheres vendem mais que os homens?*
O ano de 2024 foi intenso para mim na produção de conteúdo. Participei de podcasts em estúdio, “lives”(transmissões ao vivo), gravação de breves conversas para as mídias sociais com diversificados profissionais, palestras presenciais e congressos, produção de vídeos com curiosidades de Brasília e prestigiando colegas em lançamentos diversos na Capital Federal. Visitei diversos bairros entre eles: Noroeste, Águas Claras, Lago Sul, Taguatinga, Vicente Pires e Park Sul. Escrevi em maio 2024, sugestões sobre atuação dos CRECIs nas crises estaduais como a que acometeu o Rio Grande do Sul.
Fechando o ano de 2024, conclusões sobre esta diversificada jornada no mercado imobiliário e a visível, forte e crescente presença feminina. Em julho 2024, organizei um podcast com o provocativo título: “As mulheres vendem mais que os homens?[1]”, quando três renomadas corretoras de imóveis compartilharam sua trajetória profissional. Na preparação para o debate me deparai com estatísticas e estudos bastante interessantes.
No Brasil, a participação da mulher no mercado imobiliário começou a ser mensurada em 1995. Naquele ano, elas representavam 8,3% da categoria. Em 2022, essa participação foi estimada em 34% pelo COFECI- Conselho Federal de Corretores de Imóveis. Porém, segundo o INSTITUTO MULHERES DO IMOBILIARIO[2], de 2003 a 2013 o número de mulheres no mercado imobiliário cresceu 144%. E em 2020 elas já correspondiam a 49% do setor. Por outro lado, enquanto na corretagem de imóveis a participação é equilibrada, em algumas profissões afins elas são maioria. Em 2020, as arquitetas correspondiam a 61% e as designers de interiores a 59% dos profissionais enquanto que na engenharia civil, apenas 23% eram mulheres.
Nos mandatos de três anos(2022-2024) dos CRECIs estaduais que se findam, destacaram-se Neia Norberto presidente do CRECI-TO e Marlene Assunção presidente do CRECI-PA com as primeiras mulheres a ocuparem os cargos. Há incentivo por parte do COFECI de formação de comissões femininas, eventos específicos para este público e comissões estaduais de destaque nacional como no CRECI-GO e sua diretora Beatriz Gomes.
Difícil abstrair, e ir num passado nem tão distante no Brasil e pensar que o Direito ao voto e de dirigir veículos automotores foram conquistados apenas em 1932 pelas mulheres; adotado em 1850, o Código Comercial, que regulamentava as atividades comerciais, determinava, em seu artigo 37, que mulheres não podiam exercer atividades mercantis, limitação que perdurou até 1958[3].
Em termos culturais, tecnológicos, políticos e mercadológicos, nós brasileiros sempre temos como referência os Estados Unidos. Muitas tendências que lá acontecem, chegam aqui meses ou anos mais tarde. Em 05 de novembro 2024, os estadunidenses decidiram pela volta de Donald Trump ao poder. Diga-se de passagem, empresário que fez fortuna no segmento imobiliário. Há grande otimismo no segmento de “real estate” local. Trazemos este ponto, pois segundo a NAR (National Association of Realtors), mais importante organização de corretores nos Estados Unidos, e a maior do mundo em número de profissionais imobiliários inscritos (2023), impressionantes 62% dos profissionais atuando naquele mercado são mulheres[4]. Profissão sabidamente bastante competitiva e agressiva. Em contraste, a NAR destaca que em sua fundação em 1908, 100% dos membros eram homens. Quanta mudança! Talvez dai a inspiração para mega popstar Beyonce e seu hit: “Run the World (Girls)”, em tradução livre o refrão : “Quem comanda o mundo? garotas!”
Há inúmeros estudos que compilei, que posso disponibilizar, com diferentes perspectivas: crescente presença feminina na sóbria e tradicional área da construção civil; número expressivo de mulheres matriculadas em faculdades de engenharia e também ocupando cargos de direção em imobiliárias e construtoras. Destaco números que saltam aos olhos: “44% das mulheres do mercado imobiliário compõem mais de 50% da renda total familiar com seu salário”, segundo a DATASTORE[5]. Porém, também destaca índices preocupantes de assédio sexual, assédio moral, bullying e machismo que devem ser tratados. O DATAZAP[6] em 2022, mostra o alto grau acadêmico das corretoras mulheres(70% tem curso superior), que dividem suas tarefas profissionais com vidas familiares atribuladas(77% tem filhos).
Na execução das atividades fins da corretagem imobiliária, penso que maior empatia, melhor atenção a detalhes, cores e materiais e capacidade de concentração, são características que posicionam as mulheres em patamar superior aos seus colegas homens. Atletas homens ganham muito mais que as atletas mulheres. Modelos femininas tem remuneração muito superior a seus colegas do sexo oposto. Porém, vale dizer que em termos de comissionamento e remuneração não noto na prática nenhuma diferenciação ou preconceito na profissão de corretor de imóveis. A atividade é democrática, justa e equânime para ambos os sexos.
* Marcelo Sicoli, conselheiro do CRECI-DF, bacharel em relações internacionais pela UnB, gestor predial com diversos prêmios no Brasil e exterior (incluindo Londres e Chicago). Corretor de imóveis no DF e em Goiás. Tem o título CIPS – Certified International Property Specialist (Especialista em Negócios Internacionais) e filiado a NAR (National Association of Realtors – EUA)
E-mail: marcelosicoli@hotmail.com Instagram: @marcelosicoli youtube.com/marcelosicoli
[1] disponível no canal do youtube.com/marcelosicoli
[3] O CORRETOR DE IMOVEIS NO BRASIL. 60 ANOS DE REGULAMENTAÇÃO PROFISSIONAL. COFECI 2022.
[5] O lado feminino do mercado imobiliário 2021: DATASTORE
[6] https://www.datazap.com.br/raio-x-da-corretora-de-imoveis/ (setembro/2022)