A assertividade nas relações humanas é a principal capacidade a ser desenvolvida constantemente e a mais almejada pelas pessoas em geral. Contudo, não é simples ou comum sermos sempre assertivos, ou seja, sentir, pensar, agir e expressar nossas emoções de forma congruente com nossas intenções, nas relações cotidianas.

Existem alguns tipos de comportamentos que norteiam nossas interações, atitudes e ações frente à vida. São eles: Passivo, Passivo-Agressivo, Agressivo e Assertivo.

Focarei no comportamento passivo-agressivo. É um traço de personalidade, uma forma silenciosa, indireta e dissimulada, de lidar e expressar hostilidade, frustração e raiva nas relações humanas. Advém do conflito interno entre as emoções contraditórias com as ações da pessoa. É uma manobra evasiva usada para evitar auto exposição, conflitos e confrontos.

Geralmente é aprendido ou modelado durante a infância. Surge como um mecanismo de defesa e sobrevivência em ambientes familiares, que reprimem a livre expressão dos sentimentos. A criança tende a generalizar as vivências negativas e passa a reprimir o que sente. Dessa forma, precisa criar meios para direcionar a agressividade, ainda que indiretamente, para adaptar-se ao meio e conviver com a família.

Tornam-se adultos emocionalmente contraditórios e inseguros, sentem uma coisa e expressam outra. Dissimulam pensamentos de ódio velados, por trás de uma aparência altruísta, simpática e bondosa.

Comportamento comumente observado em pessoas de nossa convivência, pessoal e profissional. Os casos mais graves são diagnosticados como transtorno de personalidade, sendo necessário ajuda profissional, para que aprenda a conviver melhor com a patologia e nas interações humanas.

É um traço comum em pessoas vitimistas, que se sentem frequentemente tratadas de forma injusta, por outros ou pela sua “vida”. São emocionalmente instáveis e se vingam do outro, agredindo-o silenciosamente.

Comunicam-se de forma “conciliadora” e ressentida: “Tudo bem, eu te entendo; Não precisa se preocupar ou Eu só queria ajudar”, mas, por vezes, usando um tom agressivo, indiferente ou um olhar raivoso. Atitudes essas, desmotivadoras de qualquer possibilidade de diálogo.

Pense na situação, em que uma pessoa discorda, desagrada ou contraria a outra. Se o outro for o passivo-agressivo, não se posicionará ou falará objetiva e claramente sobre suas necessidades e sentimentos. Reagirá negando e camuflando sua raiva. Fechar-se-á em suas emoções e se vingará com: mau-humor, ironia, indiferença, sarcasmo, mensagens indiretas/ duplo sentido e ainda usará o silêncio ou o sexo, como forma de punição, se julgar necessário.

Comportamentos previsíveis do passivo-agressivo

“Esquece” intencionalmente de fazer certas coisas: Prefere ser percebido como “distraído” ao invés de desagradável. Não se recusará a fazer um trabalho, mas justificará com o esquecimento do prazo, por exemplo.

Diz ”sim”, mas nem sempre, cumpre a palavra: Esforça-se para parecer agradável, desta forma, fica difícil dizer não. Por vezes, aceita compromissos que sabe que não cumprirá. Quando sente que precisa fugir de situações incomodas ou de seus compromissos, cancela em cima da hora alegando doença ou uma emergência, sem hesitar.

Fala por trás: Compartilha algumas opiniões, mas não inicialmente, aguarda até que outros se exponham. É crítico, julga e reclama das pessoas, mas não se expõe e fala diretamente com a pessoa da qual reclama. Percebe que sua forma indireta de agir, prejudica seus relacionamentos e, geralmente não faz nada para mudar sua atitude e resolvê-los.

Mostram-se intencionalmente inaptos: Quando não quer fazer algo, mostra-se o mais ineficiente possível, para evitar fazer o trabalho. Não diz claramente: Eu tenho dificuldade ou não gosto desse tipo de projeto. E quando se vê sem opção, aceita e procrastina intencionalmente, esperando que deleguem a outro ou alguém assuma e faça o trabalho. Em último caso, faz o trabalho ainda que contrariado.

Disfarça os sentimentos, sorrindo: Não expressa sua contrariedade, frustração ou raiva claramente. “Coleciona” amarguras e ressentimentos durante anos, negando e dissimulando-os com um sorriso falso, se necessário. Nas situações que discorda do que o outro diz, fará parecer que concorda com sua opinião.

Busca vingança: Disfarça suas reais intensões e sentimentos, sob uma máscara de aparência simpática e agradável. Sente-se incompreendido e injustiçado. Vinga-se punindo aqueles que o contrariam, magoam ou se aproveitam dele. Suas ações intencionais são indiretas, anônimas e intrigantes, mas sempre, projetando no outro, sua raiva reprimida.

Exposição: Sente-se desamparado. Não acredita que pode fazer suas próprias escolhas e assumir a responsabilidade pelo rumo de sua vida. Ao invés de resolver suas questões, recorre às suas crenças/suposições (imaginárias) e se convence que: “Não adianta eu tentar reagir, porque de qualquer maneira, não posso fazer nada sobre isso.” Sua passividade sabotadora, lhe impõe maior sofrimento e, muitas de suas suposições negativas, se comprovam como “profecias autorrealizáveis” em sua percepção.

Evita o confronto, se afasta: Ainda que se sinta ofendido em uma situação, evitará o confronto direto sempre, pois acredita não ter condição para enfrenta-lo. Invariavelmente comunica-se de forma imprópria, dramática ou vitimista, e por vezes, é destratado por alguns, mas nem assim, reconhece seus sentimentos feridos, os assume e reage assertivamente a seu favor.

Manipulador: Luta pelo controle de pessoas ou situações e, por aquilo que quer, usando técnicas de manipulação do outro, para satisfazer suas intensões e necessidades. Não pede ajuda para nada, nem a ninguém. Reclama estrategicamente, para sensibilizar alguém a lhe oferecer ajuda. Não importa se o percebem como fraco ou sintam dó, desde que satisfaçam suas necessidades, para que cumpra o seu objetivo.

Ao identificar sinais de comportamento passivo-agressivo, em um colega, amigo ou familiar e, tiver intimidade para tanto, ofereça ajuda para que ele se torne ou mantenha sua responsabilidade. Permitir que ele continue fugindo de suas responsabilidades ou evite confronto, só reforçará o seu comportamento.

Conheça os principais gatilhos do comportamento passivo-agressivo e as estratégias para autoquestionamento e ações: 

EXPRESSE SEUS SENTIMENTOS-> Avalie algumas situações que te chatearam recentemente e questione-se honestamente:

ü Tenho me comunicado e expressado o que sinto claramente as pessoas com quem me relaciono?

ü O que tem impedido ou favorecido expressar meus sentimentos?

ü Meu verdadeiro objetivo é melhorar minhas relações ou ainda desejo me vingar para que o outro sofra tanto ou mais do que eu?

ABANDONE O SARCASMO-> Descontinue gradativamente o uso do sarcasmo como linguagem para encobrir agressões verbais e/ou destilar veneno.

ü Seja honesto, franco e direto consigo e com os outros. Pode ser a melhor opção e, o caminho mais curto e eficiente, para desenvolver assertividade e viver de forma mais leve, autêntica e feliz.

ESTABELEÇA SEUS LIMITES-> Conheça, defina e imponha seus próprios limites. Se você não se respeitar, não espere ser respeitado pelos outros.

ü Se não quer fazer algo, não diga sim e aceite fazer. Se posicione e aja de acordo com seus sentimentos e pensamentos.

ü Acredite, não há problema em expressar-se franca e claramente, experimente!

FEEDBACK NÃO É ALGO PESSOAL-> Aqueles habituados a julgar os outros, não percebem a diferença, generalizam e confundem com feedback.

ü Ao receber um feedback, ouça-o racionalmente e separe os fatos de suas emoções. Perceba que não se trata de julgamento, um ataque crítico ou mesmo, vingança. Aceite, cresça e aprenda com a crítica honesta e construtiva. Não é nada pessoal, acredite!

BUSQUE AJUDA PROFISSIONAL-> Ao sentir dificuldade, resistência, impotência ao tentar mudar seu comportamento passivo-agressivo, não desista! Saiba que existe a possibilidade de tornar-se confiante e assertivo. Um Psicólogo pode e vai ajuda-lo a tornar consciente, os padrões e gatilhos que desencadeiam sua agressividade. E assim aprenderá a posicionar-se com firmeza e segurança, usando palavras alinhadas as suas emoções. À medida que for trabalhando suas questões existenciais, passará a relacionar-se assertivamente, pessoal e profissionalmente.

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Comportamentos sabotadores como os do passivo-agressivo, causam inúmeras dificuldades relacionais, sentimento de impotência, frustração e sofrimento existencial na vida da pessoa. Contudo, há tratamento e solução, informe-se e busque ajuda o quanto antes!

 “Para que resistir e continuar sobrevivendo de forma ambígua, lidando com duas “entidades” opostas, que coexistem em seu corpo?” – Marcio Caldellas

Marcio Caldellas – Psicólogo clínico, Personal, Career & Executive Coach certificado pela Sociedade Brasileira de Coaching e BCI – Behavioral Coaching Institute – USA. Sólida carreira desenvolvida em Executive Search como Headhunter atuando com posições executivas. www.mccoaching.net