Pesquisa aponta tratamento que elimina 100% do vitiligo

Seção: SAÚDE
Categoria: Tratamentos
Publicado em 21/07/2018
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Em experimentos com ratos, tratamento tira as manchas da pele em duas semanas e não deixa que elas voltem. Nas abordagens atuais, a recidiva é de até 40%

 

 

O vitiligo faz parte do grupo de doenças autoimunes, desencadeadas por falhas que levam o sistema de defesa a atacar o corpo do qual faz parte. A enfermidade é incurável, mas um grupo de pesquisadores americanos identificou uma alteração em células protetoras que pode ser explorada para o desenvolvimento de novos tratamentos. Os primeiros resultados são promissores. Em experimento com camundongos, os cientistas conseguiram reverter as manchas da pele desencadeadas pela doença em apenas dois meses. As descobertas foram apresentadas na última edição da revista Science Translational Medicine.

Quando as terapias disponíveis atualmente são interrompidas, até 40% das manchas provocadas pelo vitiligo reaparecem. “Queríamos saber por que isso acontece e encontrar uma maneira de evitar esse problema para que os tratamentos sejam duradouros”, conta ao Correio John E. Harris, um dos autores do estudo e diretor da Clínica de Pesquisa em Vitiligo, na Universidade de Massachusetts.

Segundo Harris, em estudos anteriores, foi identificado um grupo de estruturas de defesa, as células-T de memória residentes (TRMs, pela sigla em inglês), que permanecem na pele após a eliminação de uma infecção viral. Isso levantou a suspeita de que essas moléculas seriam responsáveis pelo retorno do vitiligo. “Elas residem na pele e permanecem por longos períodos de tempo porque se sentem bem na região em que se formaram. Acreditamos que elas reiniciam a doença e fazem com que as manchas brancas retornem”, explica o cientista.

Para testar a hipótese, Harris e colegas analisaram lesões de pacientes com vitiligo e descobriram que elas continham TRMs que expressam componentes de um receptor para a interleucina-15 (IL-15), uma molécula de sinalização imunológica, responsável por ativar o sistema de defesa. Em ratos com vitiligo, os TRMs exibiram o mesmo receptor de IL-15, o que permitiu os testes para uma possível abordagem terapêutica.

As cobaias com a doença autoimune receberam, então, um anticorpo que tinha como alvo o receptor de IL-15. Após duas semanas de tratamento, a pigmentação na pele dos camundongos foi restaurada. “Descobrimos que a proteína IL-15 era um sinal de sobrevivência para essas células (de defesa com problema) e que o bloqueio desse sinal fez com que essas células desaparecessem”, explica Harris.

 

Mais fatores

Segundo Caio de Castro, dermatologista da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), o estudo americano é bastante promissor e explora moléculas que têm despertado a atenção médica. “Já se sabia do papel dessas células de memória resistente em enfermidades da pele. Claro que temos outros fatores, como o genético, mas sabemos que traumas físicos podem liberar esses mediadores, como a interleucina 15, que ativa os queratinócitos, gerando as manchas”, detalha. “Se você bloqueia esses receptores de IL-15, a interleucina 15 não age e as manchas não aparecem.”

Os cientistas americanos planejam realizar testes com humanos no próximo ano. “Esperamos que o tratamento seja aprovado para uso regular em todos os pacientes com vitiligo”, diz Harris. “Também estamos procurando novas maneiras de remover essas células para que possamos experimentar outras formar de tratamento.”

Castro ressalta que os experimentos clínicos são essenciais. “Somente com esses testes vamos ter certeza de que o resultado é positivo e de que a intervenção pode evitar o retorno da doença. Acredito que podemos esperar avanços nessa área, até porque muitas empresas têm se voltado para o vitiligo. Hoje, vemos uma grande quantidade de imunobiológicos para psoríase, acredito que o mesmo venha a ocorrer com o vitiligo”, diz.

"Também estamos procurando novas maneiras de remover essas células para que possamos experimentar outras formar de tratamento” 
John E. Harris, cientista da Universidade de Massachusetts
FONTE
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