O debate reuniu Mayana Zatz, professora de Genética da USP e coordenadora do Centro de Pesquisas em Genoma Humano e Células-Tronco; Humberto Antunes, so?cio-fundador da Terra2 Solutions, e Jorge Forbes, psicanalista e criador do conceito "TerraDois". O termo discute, de forma abrangente, as particularidades e os dilemas da sociedade na pós-modernidade.
Para a professora e pesquisadora da USP, já é possível vislumbrar alguns avanços significativos para a medicina do futuro. Um deles é o desenvolvimento de medicamentos personalizados, que seriam mais eficazes e teriam menos efeitos colaterais.
"Hoje, a indústria farmacêutica se protege descrevendo na bula os possíveis efeitos adversos do medicamento. No futuro, isso deve ser mudado", diz, em entrevista à Época NEGÓCIOS.
"Antes de você tomar um remédio, vai fazer um teste genético que mostrará qual é a droga e a dosagem correta", explica. Segundo ela, esse recurso já existe para alguns pacientes e pode se tornar mais disponível dentro de cinco ou 10 anos.
Zatz também destaca as pesquisas em torno da regeneração e "fabricação" órgãos. O primeiro tem a ver com técnicas que possibilitem tratar órgãos danificados com as próprias células dos pacientes, uma vez reprogramadas. Já o segundo, envolve o desenvolvimento de animais transgênicos — isto é, geneticamente modificados — que possam ter células compatíveis com os seres humanos.
O aumento da longevidade é outro tema importante nessa discussão. Com tratamentos cada vez mais efetivos, a tendência é que a população atinja idades mais longevas — Zatz acredita que a nova geração deva chegar aos 100 anos. Para os especialistas, o fato torna urgente, entre outras questões, o replanejamento dos sistemas de Previdência e de saúde.
O so?cio-fundador da Terra2 Solutions destaca, porém, que a preocupação não deve se limitar ao aumento da expectativa de vida. "É preciso prolongar a qualidade. Hoje, estamos cuidando do doença e não da saúde", diz.
Para Antunes, a conscientização das pessoas sobre cuidados preventivos é o primeiro passo para melhorar esse ponto. "Quem ganha preservando a saúde? É a pessoa, antes mesmo de ser paciente", explica. Para o futuro, o empresário prevê possibilidades como o treinamento de células: no lugar de injetar uma toxina para estimular o desenvolvimento de defesas, "mensagens" seriam enviadas para que a criação seja espontânea.
O psicanalista Jorge Forbes questiona, por sua vez, qual será o papel dos médicos frente à evolução de robôs e sistemas cada vez mais inteligentes e precisos. Segundo ele, a discussão em torno da confiabilidade das habilidades humanas frente às artificiais na saúde se assemelha, de certa forma, ao debate em torno dos carros autônomos.
Na avaliação de Zatz, a tendência é que o médico passe a ter um papel cada vez maior na interpretação de informações, transmitindo-as, então, aos pacientes. Antunes, por sua vez, crê que cabe ao médico estimular, cada vez mais, os cuidados preventivos à saúde.
Frente a avanços como o da expectativa de vida, Forbes destaca a necessidade de se discutir questões complexas do ponto de vista humano — como a relação com a morte. Cada vez mais, a morte tem um domínio da opção pessoal", diz o psicanalista, referindo-se à possibilidade de manter viva uma pessoa em estado vegetativo, por 10 ou 20 anos, por meio de máquinas.
Ele afirma que as possibilidades, muitas vezes, fazem com que vidas sejam prolongadas além do que deveriam. "O avanço científico nos obriga a realizar esse questionamento".