Impressoras 3D estão por toda parte e elas resolvem vários problemas e “problemas” da vida moderna. De impressão de barras de chocolate, passando por brinquedos, casas inteiras, carcaças de aparelhos, carros e até próteses intracranianas, a variedade de produtos que saem dessas matrizes é impressionante. Basta uma receita e pronto: o resultado desejado sai da máquina como mágica. Apesar de a ciência e a medicina terem adotado amplamente esses dispositivos, principalmente nas áreas de ortopedia e pesquisa de tecidos duros (ossos), pouco ou quase nada se sabia a respeito dos investimentos da indústria farmacêutica na tecnologia.
No Reino Unido, frente aos problemas de crianças e adolescentes ingerirem corretamente suas doses diárias de hormônios, hospitais e clínicas parecem ter avistado uma luz na impressão tridimensional para resolver o problema dos jovens organismos. Tomemos como exemplo o caso do garoto Joseph, de 13 anos, que foi diagnosticado com artrite juvenil. Segundo a mãe dele, Helen, era necessário tomar esteroides desde muito cedo para tratar a doença. O problema é que, em longo prazo, pílulas de esteroides acabam por “adormecer” as glândulas suprarrenais, responsáveis pela fabricação natural de cortisol no corpo humano. Resultado: como efeito colateral, Joseph ficou sem produzir seu próprio cortisol, um hormônio importantíssimo para o sistema imunológico.
Isso abriu caminho para um novo problema: tomando esteroides e perdendo cortisol, Joseph teria que repor o hormônio que seu organismo havia deixado de produzir. E a saída foi tomar novas pílulas até que as suprarrenais voltassem a produzir cortisol naturalmente.
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Se você toma algum medicamento de uso contínuo, provavelmente já teve de se deparar com ajustes de dosagem para seu organismo e recorreu àqueles cortadores de comprimidos. No caso de Joseph, havia um problema maior: o laboratório só produzia comprimidos de 20 mg, e a dosagem do garoto era bem inferior a isso: de 0,4 mg a 0,8 mg por dia. Como cortar um comprimido de 20 mg em frações exatas com a dose determinada para ele?
Depois de tentarem picotar comprimidos em milímetros (altamente desaconselhável devido à oxidação e à distribuição dos fármacos dentro de cada pílula, que pode ser irregular e oferecer uma subdosagem), mãe e filho descobriram uma nova maneira de resolver o problema: conversaram com Matthew Peak, diretor de pesquisas do Alder Hey Children’s Hospital, em Liverpool, e viram na impressão 3D a solução. Abriam-se as portas para um novo tipo de pesquisa que revolucionaria a indústria de medicamentos.
Em julho de 2018, após o caso clínico de Joseph e outras crianças do Alder Hey mostrarem a importância da dosagem correta em organismos muito jovens, a equipe de pesquisa do hospital se tornou a primeira do mundo a produzir e administrar comprimidos impressos em 3D para seus pacientes, como parte de uma pesquisa.
Um grupo de 50 crianças de 4 a 12 anos serviu como controle: a elas, foi pedido para tomarem comprimidos tradicionais (placebo) de 6, 8 e 10 mm — apenas para ajudar a guiar a noção de tamanho ideal da pílula nestas idades. Incrivelmente, a indústria farmacêutica parecia não ter a mínima noção de tamanho ideal de comprimido para crianças em cada faixa etária.
A próxima etapa da pesquisa foi pedir às crianças para tomarem pílulas de placebo em tamanhos “personalizados”, impressos em 3D. Vale ressaltar que, por serem impressos, elas não possuem uma superfície ou formato tão agradável quanto o de comprimidos ou pílulas industrializadas. No entanto, o formato “rústico” dos medicamentos impressos não parece ter sido um problema para a ingestão, segundo as crianças envolvidas nos testes.
A pesquisa vai levar mais dois anos até que a equipe responsável consiga calibrar as dosagens ativas necessárias para cada criança da clínica. A ideia é conseguir tamanho, forma e dosagem ideais, e, quem sabe, até cores e sabores personalizados. E a primeira droga a ser testada será a hidrocortisona — o hormônio de Joseph, que falamos no início deste texto, e que tem dado dor de cabeça a tantas famílias na hora da administração.
Já existe uma impressora 3D voltada a remédios, responsável por produzir um medicamento chamado Spritam (usado no controle de epilepsia), da Aprecia Pharmaceuticals, nos Estados Unidos. O aparelho contém uma impressora 3D tradicional, além de tecnologias próprias da Aprecia, e o medicamento já passou pela FDA (órgão semelhante à nossa Anvisa, aqui no Brasil) em 2015 e é comercializado nos EUA.
Vale lembrar que nem todos os remédios funcionariam bem com este tipo de tecnologia, mas há vantagens a serem consideradas: apesar da superfície mais porosa das pílulas, é possível calibrar a dosagem de acordo com cada paciente, alterar o formato do comprimido e dissolvê-lo mais facilmente na boca.
Vários laboratórios já exploram a ideia de imprimir seus medicamentos, mas, aparentemente, a tecnologia ainda não consegue competir com a indústria tradicional. Para se ter uma noção, um laboratório da GlaxoSmithKline consegue fabricar 1,6 comprimidos por minuto; em contrapartida, a impressora da Aprecia produz dezenas ou centenas de comprimidos... por dia.
Levando isso em consideração, num primeiro momento, que a impressão de pílulas pode começar dentro de centros de tratamento e hospitais, não é uma má ideia iniciar o processo por aí, mesmo que não seja tão rentável. Com o avanço das tecnologias, a esperança é que isso se torne algo comum no dia a dia de tantos pacientes que lutam para ajustar suas doses e terem certeza de que ingeriram a quantidade certa