RIO — Uma análise com mais de 23 mil produtos alimentícios industrializados, das 22 maiores companhias do setor, revela que menos de um terço deles podem ser classificados como saudáveis. Os dados fazem parte do Índice de Acesso Global à Nutrição 2018, lançado nesta quarta-feira pela ONG holandesa Fundação Acesso à Nutrição. O resultado, aparentemente negativo, mostra progressos em relação ao último relatório, de 2016.
— É alarmante que menos de um terço dos produtos analisados pela Fundação tenham sido classificados como saudáveis — comentou Paulus Vershuren, conselheiro da ONG holandesa. — A diferença entre a nossa análise e a avaliação própria das companhias mostra a necessidade de mais transparência em como elas medem a salubridade e definem metas de melhoria. As companhias precisam fazer mais para desenvolver e comercializar produtos saudáveis.
O relatório avaliou todos os produtos das 22 maiores companhias alimentícias do planeta em nove mercados: África do Sul, Austrália, China, EUA, Hong Kong, Índia, México, Nova Zelândia e Reino Unido (a Brasil Foods foi excluída por ter apenas três produtos disponíveis nos países incluídos no estudo). Juntas, elas faturam mais de US$ 500 bilhões oferecendo alimentos em mais de 200 países, influenciando a dieta de bilhões de pessoas.
O Índice de Acesso Global à Nutrição avalia como esses fabricantes são responsáveis na forma como fabricam, vendem e oferecem seus produtos de forma a combater a crise global de nutrição, que tem uma em cada três pessoas no mundo ou desnutrida ou com sobrepeso. As companhias avaliadas foram Ajinomoto, Arla Foods Amba, Brasil Foods, Campbell Soup, Coca-Cola, ConAngra Brands, Grupo Danone, Grupo Ferrero, General Mills, Grupo Bimbo, Kellogg, Kraft Heinz, Grupo Lactalis, Mars, Meiji Holdings, Mondelez International, Nestlé, PepsiCo, Royal FrieslandCampina, Suntory Holdings, Tingyi International e Unilever.
A Nestlé lidera o ranking, com performance acima da média nas sete categorias avaliadas, mas foi a cooperativa holandesa FrieslandCampina quem mais avançou nos últimos dois anos, subindo quatro posições no ranking. Segundo a ONG, a melhoria é resultado de novas estratégias e iniciativas para lidar com a desnutrição e compromissos com o marketing responsável. Nove companhias obtiveram notas acima de 5, contra apenas duas em 2016. A média das 22 empresas subiu de 2,5 para 3,3, de um total de dez, nota ainda muito baixa, apesar do avanço.
— Existem boas e más notícias. Por um lado, temos evidências de que várias empresas estão aumentando seus compromissos para lidar com o desafio da nutrição, incluindo os altos níveis persistentes de desnutrição em muitos países emergentes. Elas estão, por exemplo, reformulando alguns produtos, melhorando a rotulagem e abordando a desnutrição em suas estratégias de negócios — afirmou Inge Kauer, diretor executivo da ONG. — No entanto, os resultados também mostram que as empresas precisam melhorar e, em particular, definir metas claras e verificáveis para tornar os produtos mais saudáveis.
SUBSTITUTOS DO LEITE MATERNO
O relatório também inclui um ranking com seis das maiores companhias alimentícias para bebês, avaliando o nível de comprometimento com os padrões globais de oferta de substitutos do leite materno. Nos primeiros seis meses de vida, a amamentação exerce papel fundamental no desenvolvimento das crianças, então as empresas devem ser responsáveis na forma como oferecem seus produtos para não minar os esforços de políticas de incentivo aleitamento materno.
Neste ano, a Danone ficou no topo do ranking, com nota 46, consideravelmente melhor do que no índice anterior, quando ficou com 31. A Nestlé ocupa a segunda posição, com 45, enquanto a Abbott subiu para terceiro, melhorando sua nota de 7 para 34. Entretanto, todas as companhias precisam expandir suas políticas de marketing para agregar todas as fórmulas para crianças menores de três anos, incluindo países pobres e em desenvolvimento.
Em apenas dois países, Tailândia e Nigéria, a ONG identificou quase 3 mil incidentes de descumprimento dos padrões de marketing destas seis companhias, a maioria em promoções em pontos de vendas e ofertas em sites de internet, o que vai contra o Código Internacional de Comercialização de Substitutos do Leite Materno.