“Não há propostas para a saúde”, diz ex-diretor da Anvisa sobre eleições

Seção: SAÚDE
Categoria: Saúde
Publicado em 13/09/2018
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Especialistas debateram custos crescentes da saúde no Brasil e desafios a serem superados nos próximos anos

São Paulo – Uso inteligente da tecnologia e dos dados disponíveis, novas políticas públicas, manutenção e melhoria do SUS, modernização das escolas de Medicina e aumento da eficiência na integração dos setores privado e público. Essas foram algumas das propostas para a saúde debatidas durante o evento EXAME Fórum Saúde hoje (12) em São Paulo, organizado pela EXAME e pela Amil.

No debate “O acesso à saúde e os custos crescentes no Brasil”, participaram Gonzalo Vecina Neto, professor da USP e ex-presidente da Anvisa; Eliane Kihara, sócia da PwC na área de saúde; e Edgar Rizzatti, diretor-executivo médico e técnico do Grupo Fleury. André Lahóz, diretor de redação de EXAME, mediou a conversa.

Um dos pontos centrais foi o consenso de que faltam propostas claras para a saúde nas eleições presidenciais desse ano. Confira os principais pontos da conversa:

Faltam propostas claras

Para os especialistas, a discussão política na campanha eleitoral está empobrecida. As candidaturas estão sem foco e o tempo mais curto para as campanhas até o 1º turno contribuiu para isso.

“Li os treze programas dos presidenciáveis. É desastroso. Não existe em nenhum ali propostas claras para a área de saúde. Alguns se comprometem com o SUS, mas isso é básico, não é discussão não manter o SUS”, analisa Gonzalo Vecina Neto.

Para o professor, está faltando discutir a questão do congelamento de gastos por vinte anos proposto pela emenda constitucional 95, chamada por muitos de “PEC do fim do mundo”. A PEC afetaria diretamente as áreas de saúde e educação, por exemplo.

Edgar Rizzatti, diretor-executivo médico e técnico do Grupo Fleury, concorda que falta tal ponto no debate dos candidatos. “Não vemos preocupações claras dos candidatos com a saúde, não vemos preocupação em discutir a questão do subfinanciamento da área de saúde. Há uma quebra entre o que a população quer saber sobre saúde e o que os candidatos falam”, diz.

Modernização na formação dos médicos

Edgar Rizzatti analisa que a formação dos médicos precisa alcançar os novos tempos se quisermos ver no Brasil uma mudança radical na saúde brasileira – uma saúde preparada para o século 21: “Falta mudanças no currículo e modernização dos métodos de ensino. É muito difícil acompanhar os avanços e os novos conhecimentos. Mesmo médicos focados em especialidades ou sub especialidades precisam se educar porque a cada cinco ou dez anos os conhecimentos e novidades crescem de modo exponencial”.

Uso racional dos planos de saúde

É preciso usar os planos de saúde e o SUS de modo mais inteligente? Há um “consumismo” diante desses benefícios?

Gonzalo Vecina acredita que falta moderação. “O SUS imita o modelo inglês de sistema universal de saúde. É um bom modelo. Mas lá os cidadãos pagam até seis libras pelos remédios que vão ganhar no sistema, o medicamento custando uma ou mil libras. Até seis libras por ele. Isso cria um uso racional do sistema. Aqui não há isso. Na rede municipal de saúde de São Paulo, por exemplo, o remédio mais receitado e distribuído é polivitamínico, que não é necessário. O sujeito acorda meio indisposto, vai ao médico, ele não está doente, mas o médico receita a ele o tal polivitamínico. Isso é desperdício. Se houver moderação através da coparticipação do consumidor, que é diferente do financiamento, vai haver um consumo mais racional. O sujeito não vai tomar um remédio desnecessário se tiver que pagar uma pequena parte por ele e o médico também vai dar receitas com mais inteligência”.

Eficiência e tecnologia

Para Eliane Kihara, sócia da PwC na área de saúde, a eficiência necessária para a saúde brasileira passa pela tecnologia. “É preciso uma integração interna nos setores privado e público e também uma integração entre eles. Falta o prontuário eletrônico, por exemplo, que o Ministério da Saúde quer criar. A tecnologia já está disponível, mas falta aplicar”.

“Pela falta de integração dos setores e da adoção de tecnologias, hoje não conseguimos ser gestores de nossa própria saúde, do nosso próprio histórico médico. O usuário precisa ter acesso às informações de seus exames e resultados para acompanhar o custo dos tratamentos, decidir o que vai fazer, quais os caminhos possíveis”, analisa Eliane.

Edgar Rizzatti acredita que é preciso saber como usar essas tecnologias a favor: “Precisamos de filtros para fazer bom uso da análise de dados disponíveis e das tecnologias. Aquelas que se provarem boas ao trazer economia de recursos e benefícios inequívocos para os pacientes ficam e precisam ser adotadas com agilidade”.

 

FONTE

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