O preço dos medicamentos pode ter aumento de até 4,46% no fim deste mês, de acordo com estimativa realizada pela Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma). O reajuste é previsto, todos os anos, para 31 de março. Com a proximidade da data, as farmácias já começaram a notificar os clientes sobre os possíveis aumentos.
O reajuste que será anunciado é o máximo que as empresas podem aplicar aos seus produtos. Isso significa que algumas farmácias podem ter aumentos diferentes para a mesma mercadoria ou até mesmo não fazer nenhuma alteração no valor. A correção é definida todos os anos pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), conforme estabelecido na Lei nº 10.742/2003. Normalmente, o reajuste é baseado no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e, no ano passado, girou em torno de 2%.
Segundo a gerente de uma farmácia localizada no Sudoeste, a partir de ontem, a recomendação aos clientes é que comprem mais unidades de remédios de uso contínuo, com exceção dos que exigem prescrição médica e por isso não podem ser comprados em grande quantidade. Além disso, ela lembrou que, todos os anos, o reajuste provoca reclamações dos clientes.
Para a diarista Jacinta dos Santos, de 70 anos, a notícia do possível aumento é péssima. “Eu me sinto lesada. Posso passar até fome”, explicou. Jacinta recebe hoje um salário mínimo por mês, ou R$ 998. Como ela tem problemas no nervo ciático e hérnia de disco, os remédios são necessários todos os meses. “Eu faço empréstimos para comprar remédios”, reclamou. Segundo a diarista, no mês passado, a medicação recomendada chegou a custar R$ 1.000.
O servidor público Eugênio Sales Martinez, de 43 anos, também pode ser afetado pelos preços. Ele sofre de transtorno de bipolaridade e precisa utilizar medicamentos controlados. Segundo Martinez, uma ida à farmácia para comprar todos os remédios prescritos pode custar até R$ 700. “Eu não posso ficar sem tomar os medicamentos”, destacou. Eugênio informou que conta com um privilégio. O órgão em que trabalha oferece restituição de 50% do valor gasto com remédios mediante laudo médico. “Mesmo assim, este ano ainda não tive tempo de conseguir a restituição. A despesa toda está saindo do meu bolso”, lamentou.
Segundo o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Distrito Federal (Sincofarma -DF), Francisco Messias Vasconcelos, todo aumento que vem para o setor varejista é visto negativamente pelo consumidor e pelo vendedor do produto. “O cliente não gosta e diminui o consumo. Isso é ruim tanto para o consumidor quanto para as empresas”, explicou. Vasconcelos recomenda pesquisar preços e prestar atenção a produtos genéricos, que podem ser mais baratos. Além disso, ele condena a ideia de formar estoques. “Estocar remédios pode trazer prejuízo. O médico pode mudar a receita ou suspender o uso. Aí, o cliente vai ter que jogar fora”, explicou.
Segundo o professor de economia da Universidade de Brasília Newton Marques, setores como o farmacêutico costumam repassar o reajuste autorizado para o preço dos produtos. “Esse setor é regulado e autossustentável. As pessoas, em geral, necessitam de remédios e não deixam de comprá-los”, explicou. Marques, no entanto, avaliou que o aumento não deve vir forte este ano. “A economia está desacelerada, sem sobressaltos. Com isso, não devemos ter grandes surpresas”, analisou. Outro fator apontado pelo economista que justificaria um reajuste menor este ano é que as matérias-primas dos medicamentos não costumam variar muito de preço.