As iniciativas de hoje são o início para uma rede de apoio, pesquisa e reconhecimento
Minha história com a ciência surgiu ainda quando criança. Eu adorava brincar com laboratórios científicos e assistir programas de TV que envolviam o tema. Na escola, química e biologia eram minhas matérias preferidas, e a cada ano o amor pela área crescia. Por isso, optei por um curso que reunia as duas matérias e acabei me tornando farmacêutica, depois mestre em ciências biomédicas. Hoje, atuo no mundo corporativo, como especialista de aplicação em cromatografia e preparo de amostra na área de Life Science da Merck no Brasil, além de já ter trabalhado muito dentro do laboratório desenvolvendo pesquisas.
Ser mulher e trabalhar com ciência é um desafio cotidiano, principalmente pela pouca representatividade feminina na minha área. Quando entrei na Merck ainda não havia concluído o mestrado, tinha pensado em desistir no meio do curso, mas meu gestor na época me incentivou a continuar. Esse é o tipo de apoio que precisamos quando escolhemos uma área que pouco investe e incentiva meninas a pensarem nesse tipo de carreira.
Vivemos tempos onde a discussão sobre o protagonismo da mulher e seu espaço no mercado vem ganhando cada vez mais destaque. Estamos desencadeando progressos na área de ciências, resultando no impulsionamento em suas carreiras profissionais com equidade. Como a Merck, que assinou com a Organização das Nações Unidas o Pacto para Empoderamento das Mulheres e passou de 32% de cargos de liderança ocupados por mulheres em 2015 para 43% em 2018.
Um levantamento feito pela Elsevier, maior editora científica do mundo, sobre a atuação das mulheres em publicações científicas, identificou que o número de participações femininas no Brasil aumentou em 11% nos últimos 20 anos e já está quase empatado com os homens, atingindo 49%¹. Para área científica, já é um grande avanço para a nossa história que carrega poucos nomes famosos de cientistas mulheres e brasileiras.
O papel de mulheres que trabalham em uma área majoritariamente de homens, é servir como exemplo para meninas que carregam o amor pela ciência não desistirem.
Acredito que a base de tudo está na educação. Quanto mais projetos forem oriundos tanto da área acadêmica quanto da corporativa, estimulando a ciência, além também dos próprios professores durante o ciclo escolar, maior será o alcance. Uso como exemplo, o projeto global Spark idealizado pela Merck, que visa instigar o interesse de crianças pela ciência e contribuir para ter mais mulheres na área no futuro. Desde 2016, 205 mil estudantes foram impactados pelo programa.
Destaco também, um marco para o Brasil que realizou ano passado, a Primeira Semana de Meninas e Mulheres na Ciência, evento idealizado e organizado só por mulheres que estudam e atuam em diversas áreas das ciências. O intuito foi incentivar meninas que ainda estão em idade escolar a conhecer as ciências e motivá-las para que acreditem que mulheres podem ocupar todos os espaços na sociedade. Cerca de 250 meninas, de 12 a 17 anos, participaram da ação.
Acredito que o papel de mulheres que trabalham em uma área majoritariamente de homens, é servir como exemplo para meninas que também carregam o amor pela ciência não desistirem. As iniciativas que conhecemos hoje para o incentivo são o início para construir uma rede ainda maior de apoio, pesquisa e reconhecimento, principalmente em nosso país, para que continuemos conquistando o respeito e espaço para as mulheres na ciência.
Ana Paula Borgo é graduada em farmácia pela PUC Campinas e mestre em ciências biomédicas pela Unicamp. Especialista em aplicação em cromatografia e preparo de amostra na área de Life Science da Merck Brasil.