A maioria das empresas não possuem programas de diversidade e não estão totalmente preparadas para lidar com o assunto. É o que revela levantamento inédito da VAGAS.com, empresa de soluções tecnológicas de recrutamento e s e l e ç ã o, e Talento Incluir, que atua na inclusão de pessoas com deficiência na sociedade por meio do mercado de trabalho. De acordo com a pesquisa, a maioria dos profissionais de RH (60%) afirmaram que a empresa onde trabalham não possui um programa de diversidade. E aqueles que informaram que contam com a iniciativa (40%), as ações são voltadas, em sua maioria, a pessoas com deficiência (88%) e jovem aprendiz (84%).
O levantamento também traz um dado importante sobre a diversidade no ambiente de trabalho. De acordo com 62% dos profissionais de Recursos Humanos respondentes, as empresas onde eles trabalham não estão totalmente preparadas para lidar com a diversidade. Outros 25% acreditam que as companhias onde atuam não estão aptas a tratar do tema enquanto 3% não souberam opinar. Somente 10% desse público profissional afirmou que suas corporações estão prontas para essa questão.
Entre as dificuldades apontadas, aparecem preconceito ou falta de informação (48%), aceitação e respeito dos gestores (25%), aceitação e respeito dos colegas (14%), falta de preparo da área de Recursos Humanos (9%), discriminação (4%).
"É um dado extremamente alarmante, ainda mais retratado por especialistas em Recursos Humanos. Mostra claramente que o tema diversidade ainda não está no centro das discussões de políticas inclusivas e mais acolhedoras. É preciso que o assunto faça parte da agenda dessas empresas e comece a ganhar corpo e relevância com a máxima urgência", alerta Leonardo Vicente, coordenador da pesquisa na VAGAS.com.
O estudo Diversidade no mercado de trabalho e nas empresas foi realizado de 6 de fevereiro a 13 de março deste ano por e-mail para uma amostra da base de currículos cadastrados no portal de carreira VAGAS.com.br, para pessoas com deficiência e profissionais de Recursos Humanos. O objetivo da pesquisa era o de identificar as barreiras e as ações que acontecem no mercado de trabalho. Os 3244 candidatos respondentes são, em sua maioria, mulheres (54%), com idade média de 33 anos, superior completo (48%) e desempregado (64%). Os 202 profissionais de RH preponderantes do levantamento são mulheres (81%), idade média de 34 anos, pós-graduados (55%) e empregados (86%). No caso dos 139 PCDs respondentes, prevaleceram os do sexo masculino (60%), idade média de 38 anos, superior completo (51%) e desempregado (61%).
A maioria dos especialistas de RH (55%) acreditam que as ações afirmativas (medidas para eliminar desigualdades) relacionadas à diversidade podem compensar perdas provocadas pela discriminação. Para 27%, não é possível enquanto 18% não opinaram. Ainda sobre as ações afirmativas, os profissionais de Recursos Humanos acham que elas impactarão o mercado.
Metade dos profissionais já se sentiu prejudicado em processos seletivos
A pesquisa da VAGAS.com e Talento Incluir ainda revela que mulheres, pessoas pretas, pessoas com deficiência e profissionais mais experientes e qualificados foram os mais afetados em processos de recrutamento e s e l e ç ã o. Desse grupo de candidatos respondentes (50%) que se sentiram prejudicados em dinâmicas seletivas, foram identificadas 54% de mulheres, 55% de pessoas pretas, 59% de pessoas com deficiência, 64% de pessoas com mais de 55 anos e 59% de pós-graduados.
"Essa pesquisa traz dados reveladores e surpreendentes. Aponta com precisão um retrato de exclusão e um certo preconceito dos selecionadores na hora de recrutar um candidato. Essa percepção retratada por mulheres, PCDs e outras pessoas reflete, de certa forma, a falta de programas estruturados de inclusão e diversidade no ambiente corporativo. Essa significativa parcela afetada acende uma luz de alerta para empresas e profissionais de RH, ainda mais em tempos em que a diversidade começa a deixar de ser um conceito e passa a ganhar mais espaço na sociedade", explica Leonardo Vicente.
Ao serem questionados para entender os motivos dessa discriminação, os candidatos respondentes afirmaram acreditar que isso ocorreu devido à idade (37%), local que mora (15%), raça/ etnia (12%), estilo e condição social (11%, cada), peso (10%), faculdade que frequentou (9%), gênero (6%), religião ou crença (5%) e deficiência (1%).
Outro aspecto abordado com os candidatos foi referente à discriminação de colegas de trabalho. Os que afirmaram ter vivenciado esse tipo de situação representaram 43%. Desse total, 48% são de mulheres, 48% de pessoas pretas, 65% de pessoas com deficiência e 47% com idade de 36 a 40 anos.
Entre os motivos apontados, destacam-se a idade (20%), condição social (19%), estilo (16%), raça e local que mora (11%, cada), peso e religião (10%, cada), gênero (9%), orientação sexual (6%), faculdade que estudou (5%), idioma ou sotaque e altura (4%, cada) e deficiência (2%).
A pesquisa também procurou saber se os episódios de exclusão são constantes. Houve mais de uma ocorrência em 25% dos casos, 10% em apenas um caso e 8% dos episódios acontecem frequentemente. Ainda de acordo com esse mesmo grupo, esses episódios causaram danos psicológicos (13%), danos sociais (10%), dificuldades no trabalho (7%), comprometimento do senso crítico e ético (4%), dificuldades na aprendizagem (3%), desvios comportamentais (2%). Nenhum somou 16%.
"A exclusão não acontece apenas na s e l e ç ã o de candidatos. Se as pessoas conseguem passar por essa etapa, acabam sendo prejudicadas pelos próprios companheiros de trabalho. São atitudes incabíveis e inadequadas em tempos de inclusão e acolhimento. É preciso que as empresas e seus integrantes olhem com mais atenção e promovam debates e ações voltadas a esses públicos apontados na pesquisa", conta Leonardo Vicente.
PCDs sofrem com discriminação
As pessoas com deficiência também sofrem com a discriminação no mercado de trabalho. Mais da metade (59%) dos respondentes se sentiram prejudicados em processos seletivos ante 50% da base total de candidatos. Os PCDs acreditam que a deficiência deles (74%) é a principal barreira para conquistar uma vaga de trabalho. Também são mais representativos (65%) em exclusão de colegas de trabalho contra 57% do total de candidatos respondentes. A frequência constante dos episódios também é maior para eles: 19% X 8% da base de candidatos. Em contrapartida, sentem que as empresas onde trabalham possuem programas de diversidade (59%) contra 31% dos demais candidatos. E também conhecem mais beneficiados por ações afirmativas: 46% X 23% do restante.