Mudando um hábito.
Mudar um ou mais hábitos, é algo possível e que está ao alcance de todos. Para tanto, são necessários dois passos importantes: escolher uma mudança que seja necessária e coerente com seus valores e propósitos para treinar persistentemente até que se torne um novo hábito.
Em nossa vida, nada é “obrigatoriamente” para sempre, sequer o que se escolheu como hobby, profissão, local de residência ou mesmo um hábito atitudinal. Considerando que a vida é constituída de fases, tudo é transitório e impermanente. A ideia de que podemos ser quem desejamos, praticar novos esportes, aprender outras línguas e culturas, experimentar novos sabores e gastronomias, desenvolver outros círculos de amigos, pode transformar uma vida estagnada em outra, rica em oportunidades, variedade, mais plena e feliz.
Nosso cérebro possui plasticidade. Pessoas evoluem, desejam mudar, crescer interiormente, e estão capacitadas para tanto. Sabemos que os neurônios geram novas conexões que permitem aprender até o dia em que morremos. A plasticidade cerebral demonstrou que o cérebro é uma esponja, moldável, e que continuamente vamos reconfigurando nosso mapa cerebral. O próprio interesse por querer mudar de hábitos, a atitude e a motivação, assim como sair da zona de conforto, convidam o cérebro a uma reorganização constante. Esse processo nos acompanha do nascimento até a morte.
Na sociedade emergente e impaciente em que vivemos, baseada na cultura do “quero tudo já e sem esforço”, mudar de hábitos se torna um martírio. Não por ser difícil, mas porque não abrimos espaço suficiente para que se torne um hábito. Já não lhe passou pela cabeça alguma vez que, ao começar uma dieta, as primeiras semanas são mais difíceis do que quando já a está seguindo há algum tempo? Isso deve-se ao resultado desse processo. Inicialmente seu cérebro lembra o que já está automatizado, o hábito de beliscar, comer doce ou não praticar exercício, até que se “educa” e acaba adquirindo as novas regras e formas de se comportar em relação à comida.
A neurogênese é o processo que gera novos neurônios. Uma das atividades que retardam o envelhecimento do cérebro é a atividade física. Sim, não só se deve praticar exercícios pelos benefícios emocionais, como o bem-estar, a redução da ansiedade, ou para ficar mais atraente e forte, mas porque seu cérebro se manterá jovem por mais tempo. O exercício ajuda a divisão das células-tronco, que são as que permitem o surgimento de novos neurônios. Práticas como a meditação, tipo de alimentação e atividade sexual, também favorecem a criação de novas células nervosas.
Nossa reorganização cerebral é estimulada ao longo de toda a vida, não há uma única etapa em que não possamos aprender algo novo. O fator idade não determina queda ou incapacitação. Todos que tiverem interesse e atitude em relação a algo poderão aprender treinar e tornar-se especialista independente da idade. Se você é uma dessas pessoas que se dedicaram durante a vida a uma profissão com a qual viveram relativamente bem, mas ficaram com o desejo de estudar mais, pode começar agora. Não há limite de idade nem de tempo para o saber e o autodesenvolvimento. Lembre-se, conhecimento não ocupa espaço!
Não permita que a crença sobre a sua idade o limite, quando de fato, seu cérebro está preparado para tudo. A mente se renova constantemente graças à plasticidade neuronal.
Anteriormente pensava-se que para modificar e automatizar um hábito precisava-se de 21 dias. Estudo recente de Jane Wardle, do University College de Londres, publicado no European Journal of Social Psychology, afirma que para transformar um novo objetivo ou atividade em algo automático, de tal forma que não tenhamos de ter força de vontade, precisamos de 66 dias.
Não me importa se são necessários 21 ou 66 dias! O aspecto relevante é que somos capazes de aprender, treinar e modificar o que desejarmos. A razão do tempo, o número de dias necessários é algo pessoal e relativo. Dependem de fatores como: disciplina, insistência, perseverança, habilidades, das variáveis psicológicas da personalidade e do interesse pessoal em de fato mudar algo em sua vida. Observo que a maioria das pessoas em processo de Coaching sob minha condução operam mudança relevante, a partir de dois meses. Reflita, o que são dois meses no ciclo de nossa vida? Nada. Acredite, esse tempo é necessário para sermos capazes de fazer a mudança que desejamos e isso nos torna livres, poderosos e mais felizes.
Sugestões para começar a operar a mudança que se deseja:
Defina seu propósito e o transforme em seu projeto -> Sabemos que, se você fizer uma lista, perceberá que tem várias coisas que deseja mudar em sua vida. Mas não há como mudar ou tentar fazer tudo de uma só vez. Neste momento, deixe de lado sua habilidade de multitarefa e não queira modificar tudo agora. Daquela sua lista, priorize e escolha o mais importante para começar e foque apenas nele. Quando conseguir automatizar o primeiro hábito, passe ao segundo e assim por diante.
Reflita sobre sua meta -> Responda às seguintes perguntas com relação ao seu objetivo e seu compromisso aumentará:
O que quero?
Por quê?
Para quê?
Com quê?
O “com que” refere-se aos seus pontos fortes, valores e atitudes para consegui-lo. Quando enfrentar algo novo, e tendo em vista que isso implicará em sair da zona de conforto, é recomendável ter a segurança e a confiança de que está preparado, que tem capacidade e que irá conseguir, ainda que seja difícil, mas não é impossível. Necessitando de ajuda especializada, procure um Psicólogo ou um Coach.
Insira a mudança que pretende operar em seu dia-a-dia -> Não importa o que você deseja mudar, mas é preciso tempo, disciplina e paciência. Se você não criar espaço em sua agenda e transformar o novo hábito/ mudança em sua rotina, é comum e esperado que você postergue (autosabotagem) o que agora ainda não faz parte de sua vida.
Valorize seu objetivo -> O que não faz parte de nossa rotina ou ordem habitual é fácil de ser esquecido ou ignorado. O primeiro passo rumo ao seu sucesso na mudança ou ressignificação de um hábito, reside em seu COMPROMETIMENTO. Organize-se e atue de forma disciplinada. Se você usa uma agenda convencional, assinale com caneta marca-texto. Se você usa App´s organizadores ou o alerta em seu celular, crie um diário com o novo objetivo. Jamais confie ou abuse de sua memória e do “Eu deveria ter me lembrado”, a não ser que você pretenda criar justificativas para suas inações e futura desistência.
Prepare-se e planeje tudo o que for necessário, para não criar desculpas e não começar -> Por exemplo, se você vai iniciar uma dieta, compre os alimentos necessários; se vai iniciar a pratica de um esporte, compre ou separe a roupa que irá usar. Enfim, planeje sua nova rotina, verifique o que será necessário comprar ou providenciar e estabeleça o dia que iniciará seu processo de mudança de hábito.
Comece hoje ou agora! -> Para quem realmente sabe o que quer, não há justificativa. Ele decide, define e inicia, simples assim! Não existe estudo científico que relacione a segunda-feira ou o primeiro dia de janeiro exclusivamente com o começo “ideal” para uma mudança ou novo hábito. Quando você sabe o que quer, está decidido a iniciar, qualquer dia é dia. Deixar tudo para a segunda é uma maneira de postergar e deixar que a preguiça vença sua determinação. O melhor dia para começar algo é hoje e porque não, AGORA!
Emocione-se com seu avanço -> Emoções avivam a lembrança, produzem bem-estar, e estar apaixonado pelo que se faz fideliza o hábito. Identifique o como se sente, o que irá conseguir, como irá melhorar sua vida pessoal e profissional com essa mudança de hábito. Aproveite e esteja presente ativamente.
Cuidado com a voz interior que lhe diz: que está cansado, qual o sentido disso e que a vida é muito curta para não ser aproveitada. NÃO CAIA NESTAS ARMADILHAS -> Em geral, nosso cérebro está bem treinado para criar desculpas e assim, permanecer na zona de conforto. Essa voz interior é muito forte e pode ser muito convincente, pois você convive com ela há anos. Neste momento, a melhor saída é questionar diretamente as desculpas de sua voz interior de forma racional e reconhecer que são apenas pensamentos disfuncionais e sabotadores querendo derrubar sua conquista e autodesenvolvimento.
É fundamental ser disciplinado -> Leve seu hábito a sério. Isso não significa se tornar sério, mas que seja uma prioridade, algo para alocar energia e dedicar seu valioso tempo. E que tenha um lugar especial em sua agenda que será seguida à risca a partir do momento que iniciar.
Seu novo hábito pode ser sua nova filosofia de vida -> Isso lhe dará outra dimensão e calma. Não se trata de aprender algo agora, mas aproveitar e saber que tem toda a vida para praticá-lo. Se, por exemplo, decidiu começar com a atividade física, não se sinta mal se pular um dia. Tem amanhã, o dia depois dele e toda a vida para fazê-lo. Não se trata de sentir-se culpado. Essa emoção não agrega nada. Só é preciso ser disciplinado e ter seriedade. Se for realmente algo importante, amanhã voltará a fazê-lo. Não é tudo ou nada. É incorporar algo bom para cada um e encaixá-lo na vida para aproveitar, não para que seja mais um sofrimento no caso de não poder realizá-lo um dia.
Marcio Caldellas – Psicólogo clínico, Personal, Career & Executive Coach certificado pela Sociedade Brasileira de Coaching e BCI – Behavioral Coaching Institute – USA. Sólida carreira desenvolvida em Executive Search como Headhunter atuando com posições executivas. www.mccoaching.net