Ter uma equipe capacitada e com alta performance é o objetivo de qualquer gestor ou empresário, pois sem as pessoas as companhias não passam de um agrupado de equipamentos e de prédios sem função. Sem elas não há geração de valor, sendo que capacitá-las, motivá-las e retê-las tem sido um grande desafio moderno. Além disso, no ambiente da indústria farmacêutica é uma necessidade regulatória demonstrar a realização e efetividade, sendo que em muitos casos, o profissional tem impacto direto na qualidade, segurança e eficácia dos produtos. Neste contexto, a gestão do conhecimento e de treinamentos toma notável importância na existência e competitividade de qualquer corporação.

Qual a importância de treinamentos?

Você já se imaginou manipulando uma série de materiais, oferendo a alguém muito especial e aguardando a sua melhora? É isso que todo o profissional da área da saúde vivência em suas atividades. Já pensou você nesta situação sem saber exatamente o que deve ser feito? Imaginou? Se a resposta é sim, você já entendeu a importância de treinamentos na indústria farmacêutica. Some a isto substâncias de pequena janela terapêutica, tóxicas ou sensibilizantes, operações com alto risco de contaminação, produtos que quando utilizados são determinantes para a sobrevivência de determinado ser vivo. Não há dúvida que manter as equipes treinadas e gerir os treinamentos é vital para o funcionamento de qualquer operação.

Qual a estratégia de capacitação?

A cadeia de produção da indústria farmacêutica é ampla e com diferentes especialidades, sendo que pode ir desde a criação de animais / cultivo de plantas / extração / síntese de materiais até a orientação sobre a administração do medicamento a profissionais da saúde. Em todas estas etapas é necessário realizar a gestão do conhecimento e treinamento, garantindo assim a qualidade, segurança e eficácia dos produtos e serviços.

Para se garantir operações padronizadas e retenção do conhecimento, as empresas gerenciam o conhecimento interno das operações por meio de documentações (procedimentos, instruções, métodos, etc), assim como criam sistemáticas de treinamento e divulgação. Além disso há a necessidade de conhecimento técnico-científico específico, que pode vir por meio de certificações (técnico, superior, pós-graduação, etc) ou por capacitações. Tanto o conhecimento interno quanto o técnico-científico devem ser geridos com o objetivo de garantir aderência a missão, visão e objetivos da companhia.

Neste contexto a gestão por competências técnicas é uma excelente ferramenta para a gestão do conhecimento técnico-científico. O correto mapeamento das necessidades e diagnóstico das equipes ajuda a dimensionar de forma assertiva a necessidade de investimento para o plano de treinamento externo (cursos, treinamentos por consultores, etc), assim como auxiliar nas decisões de desenvolvimento ou substituição de colaboradores. Também deve-se considerar neste mapeamento a senioridade, perfil profissional (técnico ou de liderança) e tipo de atividade exercida (operação ou pesquisa) pelo colaborador. Para a gestão do conhecimento interno deve-se criar sistemáticas de capacitação e reciclagem com base nos documentos, sendo que em algumas atividades será necessário um maior esforço devido a criticidade.

Nas indústrias farmacêuticas é bastante comum que a capacitação dos colaboradores seja direcionada por matrizes de treinamento, com capacitação inicial nas boas práticas, regras de segurança do trabalho e meio ambiente. Existem diferentes estratégias para a determinação da matriz de treinamento, sendo que a mais efetiva é a que fixa quais documentos precisam ser divulgados ao colaborador antes do início do trabalho. Para tanto é necessário mapear e fazer uma relação de atividade versus documentação necessária. Este mapeamento é de extrema importância e decisivo para o funcionamento e efetividade do sistema de treinamento. Deve ser realizado pelos gestores, aproximando a sistemática de treinamento a maneira que são distribuídas as tarefas nas equipes. Além disso, é necessário correlacionar as atividades com os principais conhecimentos técnicos-científicos necessários, de forma a garantir que o colaborador tem os requisitos determinados para a função. A avaliação de efetividade do treinamento pode ser por execução de prova teórico ou prática, sendo que deve-se monitorar a performance do colaborador pelos sistemas de desvios, OOS e auditoria interna.

Outro ponto importante é a necessidade de treinamento e documentação especifica para qualificação de certas atividades, como análises, inspeções visuais de injetáveis, treinamento para produções assépticas, etc. Estas são exigências legais e normalmente tem procedimento e testes de qualificação específicos, que variam de acordo com o mercado consumidor.

É necessário determinar uma estratégia de reciclagem, sendo que a prática mais adotada é verificar as falhas ocorridas durante o período e reforçar o treinamento com todas as equipes envolvidas por meio de um plano formal. Além disso, treinamentos básicos de boas práticas, segurança e meio ambiente devem ser sempre reciclados, sendo alguns exigidos por regulamentações / normas técnicas.

Quais indicadores monitorar?

O principal índice a se monitorar no sistema de treinamento é a aderência aos planos para o período. Esta pode ser ao plano de reciclagem, ao de treinamentos especiais (inspeção de produtos, produção assépticas, etc) ou a matriz de treinamento. O último é especialmente trabalhoso e, dependendo do tamanho da companhia, se torna imprescindível a utilização de software para garantir a conformidade.

A eficácia do treinamento é medida pelos sistemas de desvios, OOS, reclamação de mercado ou auditoria interna sendo que as avaliações críticas destes devem gerar ações para os planos de reciclagem ou matriz de treinamento.

Autor:

Robson Assis França é farmacêutico Industrial e black belt com MBA em projetos e Master na gestão do supply chain. Atua como gestor da área de Qualidade em indústrias farmacêuticas e é fundador do grupo Farma Info do linkedin.